Tráfico de pessoas: adolescentes são as maiores vítimas
BRUNO BASTOS
21.03.10
Crianças e adolescentes têm proteção especial assegurada em lei. Ainda assim, são usadas como mão de obra barata, vendidas como mercadorias e violentadas como objetos sexuais. Pernambuco é um dos pontos de conexão de redes nacionais e internacionais do tráfico de pessoas e essas práticas criminosas estão mais perto do que nós imaginamos. Nesta reportagem especial, a Folha de Pernambuco ouviu especialistas que buscam atuar nas mais diversas frentes da guerra contra a exploração e o tráfico de menores de idade, um crime que se nutre da desinformação e do desinteresse da sociedade.
Em 28 de janeiro do ano passado, a adolescente S.M.S., 16, deixou sua casa, no município de Gravatá, no Agreste do Estado, para trabalhar como prostituta na avenida Conselheiro Aguiar, em Boa Viagem, no Recife. Na Capital, ela conseguiu documentos falsos para se passar por maior de 18 anos e ficou alojada em um apartamento com outras garotas de programa. Segundo o conselheiro tutelar da 5ª Região Político Administrativa do Recife, Geraldo Nóbrega, fortes indícios apontam que ela recebeu “ajuda” de outras pessoas para vir à Capital pernambucana, conseguir uma acomodação e um local para se prostituir.
A iniciativa de encontrar a jovem partiu de sua própria mãe, que entrou em contato com a polícia e o Conselho Tutelar de Gravatá. Ela viajou ao Recife para buscá-la por conta própria. A busca foi bem sucedida e as duas retornaram ao Interior do Estado. Mas não é possível afirmar que essa história teve um final feliz: a família mudou de endereço e, hoje, ninguém sabe o que aconteceu com ambas. A história da jovem é mais uma que se perdeu na obscuridade do crime do tráfico de pessoas.
Para a secretária de Assistência Social do Recife, Karla Menezes, o tráfico de crianças e adolescentes está ligado a outras práticas criminosas, como o tráfico de drogas e a exploração do trabalho infanto-juvenil. “O papel da família nesses casos tanto pode ser o de vítima, quando ela não é cúmplice da situação de exploração, como o de incentivadora, quando pais, avós ou outros parentes se aproveitam dessa criança como mão de obra”, destaca Menezes. Geraldo Nóbrega salienta que o tráfico de menores de idade só existe porque há crianças e adolescentes circulando indevidamente no País. “Um dos elos da cadeia da exploração sexual é a facilidade de transportar essas vítimas. Se a legislação que existe no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) fosse seguida, já estaríamos combatendo fortemente essa prática”, lembra o conselheiro.
O ECA estabelece que menores de idade só podem fazer viagens intra e interestaduais com os pais - devidamente identificados por meio de documentação - ou com responsáveis legalmente designados. O mesmo vale para a hospedagem de crianças e adolescentes em hotéis, pousadas e outros estabelecimentos que recebam turistas. Uma pesquisa realizada pelo Centro de Prevenção às Dependências (CPD) com 142 jovens que se prostituem na Zona Sul do Recife demonstra a vinculação da exploração sexual com o tráfico de pessoas. Um total de 58% das jovens afirmou que viajaria com um “cliente”, enquanto 35% delas já o fez.
Segundo a conselheira estadual de Direitos Humanos e articuladora política da Organização Não-Governamental Casa de Passagem, Eleonora Pereira, o crime do tráfico de pessoas vive na obscuridade. “Os agenciadores estão dentro das comunidades carentes e muitas vezes eles usam as próprias vítimas para atrair novas meninas. Embora muitas delas venham do Sertão do Estado para o Recife e outras praias dos de Pernambuco, Alagoas e da Paraíba, o tráfico não se caracteriza apenas por grandes deslocamentos. Só o fato de tirar um menor de idade do local onde vive, em Jaboatão dos Guararapes, por exemplo, para que ele se prostitua em Boa Viagem já caracteriza o crime”, explica Eleonora.
Fonte:
Folha de Pernambuco
BRUNO BASTOS
21.03.10
Crianças e adolescentes têm proteção especial assegurada em lei. Ainda assim, são usadas como mão de obra barata, vendidas como mercadorias e violentadas como objetos sexuais. Pernambuco é um dos pontos de conexão de redes nacionais e internacionais do tráfico de pessoas e essas práticas criminosas estão mais perto do que nós imaginamos. Nesta reportagem especial, a Folha de Pernambuco ouviu especialistas que buscam atuar nas mais diversas frentes da guerra contra a exploração e o tráfico de menores de idade, um crime que se nutre da desinformação e do desinteresse da sociedade.
Em 28 de janeiro do ano passado, a adolescente S.M.S., 16, deixou sua casa, no município de Gravatá, no Agreste do Estado, para trabalhar como prostituta na avenida Conselheiro Aguiar, em Boa Viagem, no Recife. Na Capital, ela conseguiu documentos falsos para se passar por maior de 18 anos e ficou alojada em um apartamento com outras garotas de programa. Segundo o conselheiro tutelar da 5ª Região Político Administrativa do Recife, Geraldo Nóbrega, fortes indícios apontam que ela recebeu “ajuda” de outras pessoas para vir à Capital pernambucana, conseguir uma acomodação e um local para se prostituir.
A iniciativa de encontrar a jovem partiu de sua própria mãe, que entrou em contato com a polícia e o Conselho Tutelar de Gravatá. Ela viajou ao Recife para buscá-la por conta própria. A busca foi bem sucedida e as duas retornaram ao Interior do Estado. Mas não é possível afirmar que essa história teve um final feliz: a família mudou de endereço e, hoje, ninguém sabe o que aconteceu com ambas. A história da jovem é mais uma que se perdeu na obscuridade do crime do tráfico de pessoas.
Para a secretária de Assistência Social do Recife, Karla Menezes, o tráfico de crianças e adolescentes está ligado a outras práticas criminosas, como o tráfico de drogas e a exploração do trabalho infanto-juvenil. “O papel da família nesses casos tanto pode ser o de vítima, quando ela não é cúmplice da situação de exploração, como o de incentivadora, quando pais, avós ou outros parentes se aproveitam dessa criança como mão de obra”, destaca Menezes. Geraldo Nóbrega salienta que o tráfico de menores de idade só existe porque há crianças e adolescentes circulando indevidamente no País. “Um dos elos da cadeia da exploração sexual é a facilidade de transportar essas vítimas. Se a legislação que existe no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) fosse seguida, já estaríamos combatendo fortemente essa prática”, lembra o conselheiro.
O ECA estabelece que menores de idade só podem fazer viagens intra e interestaduais com os pais - devidamente identificados por meio de documentação - ou com responsáveis legalmente designados. O mesmo vale para a hospedagem de crianças e adolescentes em hotéis, pousadas e outros estabelecimentos que recebam turistas. Uma pesquisa realizada pelo Centro de Prevenção às Dependências (CPD) com 142 jovens que se prostituem na Zona Sul do Recife demonstra a vinculação da exploração sexual com o tráfico de pessoas. Um total de 58% das jovens afirmou que viajaria com um “cliente”, enquanto 35% delas já o fez.
Segundo a conselheira estadual de Direitos Humanos e articuladora política da Organização Não-Governamental Casa de Passagem, Eleonora Pereira, o crime do tráfico de pessoas vive na obscuridade. “Os agenciadores estão dentro das comunidades carentes e muitas vezes eles usam as próprias vítimas para atrair novas meninas. Embora muitas delas venham do Sertão do Estado para o Recife e outras praias dos de Pernambuco, Alagoas e da Paraíba, o tráfico não se caracteriza apenas por grandes deslocamentos. Só o fato de tirar um menor de idade do local onde vive, em Jaboatão dos Guararapes, por exemplo, para que ele se prostitua em Boa Viagem já caracteriza o crime”, explica Eleonora.
Fonte:
Folha de Pernambuco
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