Os atropelos da educação
Publicado em 11.03.2010
O Ministério de Educação (MEC) determinou uma série de mudanças e de novas regras em relação ao último vestibular para as universidades federais, com “o jogo em andamento”, mudando parâmetros que eram adotadas já há muito tempo e que de repente foram trocadas sem uma conscientização maior, de estudantes e professores. O resultado é um balaio de críticas ao sistema, desinformação, alunos prejudicados, vagas não preenchidas, etc. Entretanto, talvez antes de condenar o que está ocorrendo se deva prestar atenção ao cenário mais amplo que vem sendo montado para a educação brasileira e que terá, neste ano, um momento decisivo, a partir de um novo Plano Nacional de Educação (PNE), destinado a dar os rumos do nosso processo educacional na próxima década.
Isso é extremamente importante, oportunidade definitiva para a correção dos rumos, porque não se trata de uma experiência, mas de um novo caminho, em bases sólidas, para a educação brasileira, resultante da participação de mais de um milhão de pessoas em debates municipais, regionais e estaduais em todo o País. A sinalização da importância desse PNE – inclusive para superar as tensões que vêm sendo geradas com as mudanças setoriais – será feita no final deste mês, com a Conferência Nacional de Educação (CNE), de onde deverá sair o documento com os fundamentos para o projeto de lei do PNE.
Abre-se, assim, uma janela para a melhoria do sistema educacional brasileiro, com o que poderemos ter, em futuro não muito distante transformações definitivas, que persistirão mais para frente, independentes do governante do dia. Diante disso, podemos evoluir para uma etapa mais avançada, não mais questionando o que está dando errado nas mexidas do MEC que tanto angustiam vestibulandos brasileiros. Parece-nos que o enfoque mais apropriado passa a ser entender a confusão ora instalada no processo educacional brasileiro como um tropeço ocasional, decorrente da peculiaridade das mudanças, que são feitas no momento mais delicado, aquele em que se verifica uma passagem existencial definitiva: da juventude para a idade adulta, do tempo das indecisões para o período de consolidação das atividades profissionais e da afirmação pessoal. Esse período de transição exige muito de pais e alunos, mas é, também, numa perspectiva mais ampla, a etapa em que os dirigentes públicos podem aplicar mecanismos capazes de mudar o País, fazê-lo avançar, modernizá-lo, atender aos ditames constitucionais, o que implica em mexer radicalmente em estruturas.
Isso vem ocorrendo em questões como as cotas que permitem o acesso aos historicamente excluídos da educação superior e, por decorrência, impedidos de chegar a cargos públicos de maior atração, a empregos melhor remunerados, a qualquer tipo de projeção social - com exceção, naturalmente, dos casos atípicos de alguns atletas ou criadores de seitas religiosas, que se tornam milionários da noite para o dia. No campo da normalidade, o processo de inserção social começa pelos bancos escolares.
Se as atribulações que acontecem hoje podem ser entendidas como tensões naturais num processo de mudanças radicais no que costuma ficar por gerações manietado por falta de coragem de romper as amarras e caminhar para objetivos mais ousados, é preciso aceitar e compreender as turbulências, sem, contudo, deixar de cobrar atos simples que poupariam a sociedade - em especial os jovens que batem às portas das universidades - de conflitos como os que estão ocorrendo. Entendemos que seja qual for a busca de melhoria da qualidade do serviço público, particularmente de serviços fundamentais como educação, saúde, segurança, tudo fluirá melhor com planejamento, clareza na exposição de metas e, sobretudo, com mecanismos como os que foram adotados para montar as bases de um novo Plano Nacional de Educação.
Publicado em 11.03.2010
O Ministério de Educação (MEC) determinou uma série de mudanças e de novas regras em relação ao último vestibular para as universidades federais, com “o jogo em andamento”, mudando parâmetros que eram adotadas já há muito tempo e que de repente foram trocadas sem uma conscientização maior, de estudantes e professores. O resultado é um balaio de críticas ao sistema, desinformação, alunos prejudicados, vagas não preenchidas, etc. Entretanto, talvez antes de condenar o que está ocorrendo se deva prestar atenção ao cenário mais amplo que vem sendo montado para a educação brasileira e que terá, neste ano, um momento decisivo, a partir de um novo Plano Nacional de Educação (PNE), destinado a dar os rumos do nosso processo educacional na próxima década.
Isso é extremamente importante, oportunidade definitiva para a correção dos rumos, porque não se trata de uma experiência, mas de um novo caminho, em bases sólidas, para a educação brasileira, resultante da participação de mais de um milhão de pessoas em debates municipais, regionais e estaduais em todo o País. A sinalização da importância desse PNE – inclusive para superar as tensões que vêm sendo geradas com as mudanças setoriais – será feita no final deste mês, com a Conferência Nacional de Educação (CNE), de onde deverá sair o documento com os fundamentos para o projeto de lei do PNE.
Abre-se, assim, uma janela para a melhoria do sistema educacional brasileiro, com o que poderemos ter, em futuro não muito distante transformações definitivas, que persistirão mais para frente, independentes do governante do dia. Diante disso, podemos evoluir para uma etapa mais avançada, não mais questionando o que está dando errado nas mexidas do MEC que tanto angustiam vestibulandos brasileiros. Parece-nos que o enfoque mais apropriado passa a ser entender a confusão ora instalada no processo educacional brasileiro como um tropeço ocasional, decorrente da peculiaridade das mudanças, que são feitas no momento mais delicado, aquele em que se verifica uma passagem existencial definitiva: da juventude para a idade adulta, do tempo das indecisões para o período de consolidação das atividades profissionais e da afirmação pessoal. Esse período de transição exige muito de pais e alunos, mas é, também, numa perspectiva mais ampla, a etapa em que os dirigentes públicos podem aplicar mecanismos capazes de mudar o País, fazê-lo avançar, modernizá-lo, atender aos ditames constitucionais, o que implica em mexer radicalmente em estruturas.
Isso vem ocorrendo em questões como as cotas que permitem o acesso aos historicamente excluídos da educação superior e, por decorrência, impedidos de chegar a cargos públicos de maior atração, a empregos melhor remunerados, a qualquer tipo de projeção social - com exceção, naturalmente, dos casos atípicos de alguns atletas ou criadores de seitas religiosas, que se tornam milionários da noite para o dia. No campo da normalidade, o processo de inserção social começa pelos bancos escolares.
Se as atribulações que acontecem hoje podem ser entendidas como tensões naturais num processo de mudanças radicais no que costuma ficar por gerações manietado por falta de coragem de romper as amarras e caminhar para objetivos mais ousados, é preciso aceitar e compreender as turbulências, sem, contudo, deixar de cobrar atos simples que poupariam a sociedade - em especial os jovens que batem às portas das universidades - de conflitos como os que estão ocorrendo. Entendemos que seja qual for a busca de melhoria da qualidade do serviço público, particularmente de serviços fundamentais como educação, saúde, segurança, tudo fluirá melhor com planejamento, clareza na exposição de metas e, sobretudo, com mecanismos como os que foram adotados para montar as bases de um novo Plano Nacional de Educação.
Fonte:
Jornal do Commércio
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