quinta-feira, 18 de março de 2010

Jovens, mães e longe da escola

Jovens, mães e longe da escola
Estudo comprova relação entre gravidez precoce, abandono dos estudos e dificuldade para ingressar no mercado de trabalho
Renata Mariz
renatamariz.df@dabr.com.br
15.03.2010 - BRASIL

Brasília - Uma gravidez não planejada somada ao fato de a futura mãe ser uma adolescente é, quase sempre, sinônimo de perdas. Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) provou, por meio de um estudo com 116 meninas de 11 a 19 anos, o que especialistas já desconfiavam. Os principais prejuízos da gestação precoce para as jovens, sobretudo as de baixa renda, objeto do levantamento, são a evasão escolar e a dificuldade no acesso ao mercado de trabalho. Os resultados do estudo surpreenderam até mesmo a autora, a enfermeira Ana Cláudia de Souza Campos. "Acreditava que fosse encontrar diferenças, comparando as adolescentes mães com as não mães, no domínio psicológico também, que incluem questões de autoestima, imagem corporal e espiritualidade. Mas não verificamos tal aspecto."

Nos tópicos referentes ao acesso à escola e ao emprego, porém, as diferenças foram gritantes. Para se ter uma ideia, apenas 30% das adolescentes mães pesquisadas (40) frequentam a escola, enquanto entre as não mães (76), o índice das que estudam sobe para 76%. Alessandra Batista da Silva, 21 anos, faz parte do grupo de jovens que abandonaram a sala de aula depois de engravidar. Desde que Ana Klara nasceu, hoje com 3 anos, Alessandra parou de ir ao colégio. "Eu tinha 17 anos na época, já estava no 1º ano do ensino médio, mas não consegui continuar", ressente-se. Pior é que ela nem sabe quando poderá retornar aos bancos escolares, pois está esperando a segunda filha, que deve se chamar Tayla. "Agora é que não sei como vou fazer mesmo. Preciso primeiro arrumar um emprego", diz.

O acesso ao mercado de trabalho, de acordo com a pesquisa, é o outro aspecto de maior impacto na vida das jovens mães. Entre as garotas com filhos, 75% não trabalham, das quais 71% ou tentaram uma vaga sem sucesso ou nem têm com quem deixar a criança pequena. No grupo de jovens que não são mães, 63,2% não trabalham, mas para 45% delas, o desemprego é uma opção, porque planejam se dedicar exclusivamente aos estudos.

Vulnerabilidade - Ana Sudária, assessora técnica da área de Saúde do Adolescente e do Jovem, do Ministério da Saúde, destaca que o maior agravante é a questão da vulnerabilidade em que se encontra a adolescente que engravida inesperadamente. "Quando falta apoio da família, da escola e dos equipamentos de saúde, fica mais difícil", afirma Sudária.

O peso da estrutura familiar

Psicóloga e gerente do Adolescentro no Distrito Federal, Michele Rodrigues relaciona, inclusive, a estrutura familiar e social da jovem com as chances de engravidar. "As meninas que não têm um projeto de vida muito legal, que não têm envolvimento com a escola, não só engravidam mais como abandonam mais facilmente os estudos", diz a especialista. Para reverter a situação, Michele aposta no acesso amplo à informação. "Às vezes, elas sabem tudo na teoria sobre camisinha, anticoncepcional, mas não sabem utilizar."

A enfermeira Ana Cláudia, autora do levantamento, concorda. "Informação existe. Está nas revistas de adolescentes, na internet. O problema é orientar. E orientação deve começar dentro de casa, na escola, no posto de saúde, no conhecimento sobre o próprio corpo. Sem falar nas inúmeras bobagens que são disseminadas por aí quando o assunto é sexo", opina ela.

Além de informações, a política de saúde tem apostado, cada vez mais, na distribuição de contraceptivos. Dados do governo federal apontam que, de1996 a 2006, o percentual de mulheres em idade reprodutiva que procuram no Sistema Único de Saúde (SUS) métodos contraceptivos aumentou de 7,8% para 21,3%. Nesse contexto, 66% das jovens de 15 a 19 anos de idade sexualmente ativas haviam utilizado algum método. Entre os mais utilizados, estão o preservativo, com 33%; a pílula, com 27%; e os injetáveis, com 5%.

Saiba mais

Contribuição da fecundidade das jovens de 15 a 19 anos no total da população

Nas regiões, em 2000:

Centro-Oeste 23,6%
Norte 22,6%
Nordeste 19,4%
Sudeste 17,7%
Sul 18,1%

No Brasil:

1980 9,1%
1991 15,3%
2000 19,4%

De 2000 em diante, o único

dado já coletado pelo governo federal é o número de partos realizados no SUS entre jovens de 15 e 19 anos, que vem diminuindo em números absolutos. Em termos percentuais, a queda foi de aproximadamente 7,5% em 2000 para cerca de 6% em 2008, comparando o número de adolescentes que se tornam mães ao número total de adolescentes no país.

Fonte: Diário de Pernambuco

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