Os números que animam
Publicado em 27.02.2010
Os números oficiais revelados pela Secretaria de Defensa Social mostram que o Carnaval deste ano teve índices de violência menores do que no ano anterior. Esse é um tema que gostaríamos de ver esgotado por ausência de motivação, por não sermos mais reféns de uma criminalidade endêmica. Por isso registramos, pouco antes do período, que este seria um ano decisivo para se avaliar a política de segurança do governo do Estado, o Pacto pela Vida. Se antes da folia os dados oficiais diziam que Pernambuco vem contendo a criminalidade de forma efetiva e não apenas circunstancial - motivo para festejarmos -, melhor ainda se isso acontece quando tradicionalmente estamos sujeitos a indicadores mais apropriados para uma guerra civil.
Daí, juntamos nosso otimismo a todos que participam deste projeto coletivo, público e privado, que é o Pacto pela Vida, sem renunciar à vigilância. Porque trabalhar um dado da realidade tão brutal como é a criminalidade endêmica como objeto de percentuais é um recurso que pode trazer algum ânimo pontual, mas lhe falta a consistência, a sustentabilidade - para usarmos uma palavra tão em moda, mas que significa tão somente que haverá sempre motivos para festejar quando os indicadores forem mais que percentuais e se colocarem muito à frente de um programa de governo. Combater a criminalidade, em Carnaval ou qualquer época, há de ser tido e entendido entre nós como uma política pública com a meta de violência zero.
Se, e quando, assim for entendido o problema da criminalidade, poderemos, aí, sim, livrarmo-nos da enganadora estatística para proclamar o escândalo coletivo diante de um só ato de violência, do tipo que apenas envergonha, até o fatal, a violência que mata e enluta. Para isso, porém, precisaremos ter instalada em Pernambuco uma cultura, permanente e efetiva, tenha o governo que o Estado tiver, seja quem for a autoridade da segurança pública. E isso implica em tornar mais visível, matéria escolar desde os primeiros passos, atitudes que levam a essa tolerância que temos diante de atos que incomodam, agridem, ferem a lei, passam por cima da autoridade, desde a que é formada pela família até a repressiva, policial, armada.
A cultura contra a violência passa por exemplos simples, como o dever de respeitar o espaço do outro, de respeitar os sinais de trânsito, de dirigir de acordo com a lei, de fazer da festa um motivo de alegria coletiva - como deveria acontecer, sempre, em campos de futebol ou na folia do Carnaval ou qualquer tipo de festejos. Esses são apenas exemplos de um conjunto de atitudes e comportamentos que fazem uma cultura de pacificação que não contempla, por exemplo, a atitude machista que é responsável pela agressão de mulheres e forçam a existência de delegacias especializadas e até de uma lei especificamente para proteger a mulher. Enquanto isso for tido como "normal" é evidente que não estaremos vivendo uma cultura de pacificação.
Oficialmente, será saudável que o problema seja posto acima de campanhas eleitorais, que aqui se instale um processo educacional permanente, compulsório onde for necessário, mas constante, dentro de uma meta de tolerância zero sem os malabarismos propagandísticos que têm acompanhado esse programa em sua nascente, nos Estados Unidos. Aqui, bastará que se faça de todos os esforços, para cada ato, cada atitude, por mais aparentemente inofensivo - mas que contenha os ingredientes típicos da criminalidade - algo parecido com o rigor com que se exigiu o uso do cinto de segurança nos automóveis e que terminou se transformando em um gesto mecânico, independente do nível educacional ou do saldo bancário de quem dirige. Um exemplo que pode se estender a toda uma cultura, destinada a fazer de festas como o Carnaval um evento tão ajustado ao prazer de viver que uma só morte, um homicídio, venha a se transformar num grande e lamentável escândalo para todos.
Fonte:
Jornal do Commércio
Publicado em 27.02.2010
Os números oficiais revelados pela Secretaria de Defensa Social mostram que o Carnaval deste ano teve índices de violência menores do que no ano anterior. Esse é um tema que gostaríamos de ver esgotado por ausência de motivação, por não sermos mais reféns de uma criminalidade endêmica. Por isso registramos, pouco antes do período, que este seria um ano decisivo para se avaliar a política de segurança do governo do Estado, o Pacto pela Vida. Se antes da folia os dados oficiais diziam que Pernambuco vem contendo a criminalidade de forma efetiva e não apenas circunstancial - motivo para festejarmos -, melhor ainda se isso acontece quando tradicionalmente estamos sujeitos a indicadores mais apropriados para uma guerra civil.
Daí, juntamos nosso otimismo a todos que participam deste projeto coletivo, público e privado, que é o Pacto pela Vida, sem renunciar à vigilância. Porque trabalhar um dado da realidade tão brutal como é a criminalidade endêmica como objeto de percentuais é um recurso que pode trazer algum ânimo pontual, mas lhe falta a consistência, a sustentabilidade - para usarmos uma palavra tão em moda, mas que significa tão somente que haverá sempre motivos para festejar quando os indicadores forem mais que percentuais e se colocarem muito à frente de um programa de governo. Combater a criminalidade, em Carnaval ou qualquer época, há de ser tido e entendido entre nós como uma política pública com a meta de violência zero.
Se, e quando, assim for entendido o problema da criminalidade, poderemos, aí, sim, livrarmo-nos da enganadora estatística para proclamar o escândalo coletivo diante de um só ato de violência, do tipo que apenas envergonha, até o fatal, a violência que mata e enluta. Para isso, porém, precisaremos ter instalada em Pernambuco uma cultura, permanente e efetiva, tenha o governo que o Estado tiver, seja quem for a autoridade da segurança pública. E isso implica em tornar mais visível, matéria escolar desde os primeiros passos, atitudes que levam a essa tolerância que temos diante de atos que incomodam, agridem, ferem a lei, passam por cima da autoridade, desde a que é formada pela família até a repressiva, policial, armada.
A cultura contra a violência passa por exemplos simples, como o dever de respeitar o espaço do outro, de respeitar os sinais de trânsito, de dirigir de acordo com a lei, de fazer da festa um motivo de alegria coletiva - como deveria acontecer, sempre, em campos de futebol ou na folia do Carnaval ou qualquer tipo de festejos. Esses são apenas exemplos de um conjunto de atitudes e comportamentos que fazem uma cultura de pacificação que não contempla, por exemplo, a atitude machista que é responsável pela agressão de mulheres e forçam a existência de delegacias especializadas e até de uma lei especificamente para proteger a mulher. Enquanto isso for tido como "normal" é evidente que não estaremos vivendo uma cultura de pacificação.
Oficialmente, será saudável que o problema seja posto acima de campanhas eleitorais, que aqui se instale um processo educacional permanente, compulsório onde for necessário, mas constante, dentro de uma meta de tolerância zero sem os malabarismos propagandísticos que têm acompanhado esse programa em sua nascente, nos Estados Unidos. Aqui, bastará que se faça de todos os esforços, para cada ato, cada atitude, por mais aparentemente inofensivo - mas que contenha os ingredientes típicos da criminalidade - algo parecido com o rigor com que se exigiu o uso do cinto de segurança nos automóveis e que terminou se transformando em um gesto mecânico, independente do nível educacional ou do saldo bancário de quem dirige. Um exemplo que pode se estender a toda uma cultura, destinada a fazer de festas como o Carnaval um evento tão ajustado ao prazer de viver que uma só morte, um homicídio, venha a se transformar num grande e lamentável escândalo para todos.
Fonte:
Jornal do Commércio
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