segunda-feira, 22 de março de 2010

Discriminação: luta continua

Discriminação: luta continua
Marcela Alves
21.03.10

Neste domingo, por todo o mundo, as pessoas lembram o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, data que foi instituída após o massacre de Shaperville, na África do Sul, em 1960. A temática, que tem origens em séculos bem anteriores, não deixa de ser atual ainda nos dias de hoje. Nas próximas duas páginas, em uma reportagem especial, a Folha de Pernambuco irá pautar a atual situação da discriminação racial, questionar se o segmento tem motivo para comemorar a data e ainda explorar histórias de personagens que alcançaram o sucesso mesmo enfrentando tantas dificuldades.

Em um país onde a miscigenação racial percorre a corrente sanguínea da larga maioria da população, chega a ser difícil acreditar que a discriminação racial ainda insiste em permear a sociedade brasileira com conceitos tão ultrapassados e preconceituosos. Hoje, órgãos governamentais, movimentos sociais ligados à causa e sociedade civil preocupada com a igualdade étnico-racial, terão a oportunidade de mobilizar forças e aproveitar a ocasião do Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial para intensificar o enfrentamento ao racismo e lembrar as batalhas já vencidas, pois, apesar de haver muito o que fazer, os negros já têm muito o que comemorar.

Em Pernambuco, de acordo com o secretário executivo de Promoção da Igualdade Étnico-racial, Jorge Arruda, os motivos para a celebração podem ser vistos na contínua promoção das políticas públicas no Estado. Desde que foi criado, em 2007, o Comitê Estadual de Promoção da Igualdade Étnico-Racial (Cepir), vinculado à Secretaria Chefe de Assessoramento Especial do governador, já mudou bastante a realidade do racismo pernambucano. “Se formos fazer um estudo dos quadros governamentais poderemos perceber que ainda existem poucos negros atuando como gestores, mas são cada vez mais. Sou o primeiro secretário no Estado a assumir essa função”, disse Jorge.

Jorge Arruda lembrou também que até 2003 não havia a obrigatoriedade das pessoas estudarem a história e cultura da África, ditada pela lei 10.639/2009. No fim do ano passado a Presidência da República elegeu Pernambuco como coordenador de política racial do Nordeste e que em setembro do ano passado foi criado o grupo de trabalho Racismo Dentro do Comando da Polícia Militar. Além disso, o Cepir desenvolveu o Programa Terreiros de Pernambuco, que além de catalogar esses espaços, forneceu, em 2009, cursos sobre religiões africanas. Ainda no ano passado, abriu em parceria com a Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), um Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígena (Neabi) e até o fim de março irá inaugurar o Centro de Referência de Enfrentamento ao Racismo (Crer), em Olinda.

“Hoje, Pernambuco é um articulador e monitorador de ações de enfrentamento ao racismo. Estamos apostando na formação do gestor, do servidor público e da sociedade civil”, comentou Jorge, que não se ilude quanto à persistência da discriminação racial na sociedade. “Não é possível mudar mais de quatro séculos de história em dois anos e meio. Há um fosso nesse período. Mas acreditamos que estamos fazendo o possível para mudar essa situação”, declarou o secretário executivo. “Estamos desenvolvendo um trabalho é de formiguinha junto com os movimentos sociais e demais órgãos e secretarias governamentais”, explicou Arruda.

Para Jorge, o dia de hoje é mais uma oportunidade para os negros se unirem contra a discriminação racial. “Todo dia é dia de enfrentar o preconceito racial e implementar novas políticas públicas em favor dos negros, pois ninguém pode deixar de ter sua cidadania plena por causa de sua cor ou raça. Podemos comemorar grandes avanços em pouco mais de dois anos de trabalho, mas ainda há mais do que já foi feito para se fazer”, afirmou Jorge, com esperança de que a discriminação racial seja extinta um dia. “Quando deixar de acreditar na arte, deixarei de acreditar no ser humano, pois como disse Paulo Freire Mudar ‘é difícil, mas é preciso’”, concluiu.

Fonte:

Folha de Pernambuco

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