Educação: falas e falácias
Roberto Pereira // Ex-secretário de Educação e Cultura de Pernambuco
robertop@elogica.com.br
Há, no processo educacional, uma grande diferença entre a teoria e a prática. No Brasil, sobretudo, os discursos levam a falas que a realidade espelha como falácias.
Os políticos, os intelectuais e os empresários estão roucos do clamor em prol da educação e, contudo, de concreto, pouco fazem no intento da melhoria do ensino, dos avanços à real e verdadeira escola de qualidade.
Os ditames constitucionais, conquanto importantes e nobres, incumbem o poder público do dever de ministrar a educação básica, que compreende a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, no seu caráter universal, obrigatório e gratuito, constituindo-se, quase diria, em falácias os artigos da nova LDB e das atualizações subsequentes que vão se constituindo em letras mortas à medida que a realidade vai negando, por injunções outras, o que se põe à redenção de um país ainda avassalado pela crise econômica, tomado pelo desemprego, pelocrescimento desordenado, pela multiplicação dos brasileirinhos em ninhadas preocupantes a um futuro próximo.
Os cursos profissionalizantes, impostos às escolas na década de 1970, foram o maior engodo a que a educação brasileira assistiu, sem que ninguém se alevantasse contra, o que se explicava, à época, pela falta da liberdade reinante. Os educandários, desprovidos de laboratórios e equipamentos, escamoteavam o ensino, enquanto os alunos, passivamente, tamborilavam à toa, assistindo ao tempo inócuo do faz-de-conta-que-ensina-que-faz-de-conta-que-aprendemos, como se "carochinhas" fossem.
É uma pena o tratamento dado pelos burocratas da educação, neste país, ainda arraigado à tecnologia terceiro-mundista e assim poderá se perenizar se não se alcear a âncora do imobilismo, o que somente ocorrerá quando a sociedade caminhar na esteira do conhecimento, a exemplo do Japão e da Coreia do Norte, um e outro por razões distintas, conquistando o desenvolvimento desde que tomaram como foco a educação.
Que se evite a política educacional traçada por planejadores confinados em gabinetes, longe do pragmatismo desejado, do contato com os estudantes que podem e devem externar os seus anseios e necessidades, vocações e talentos, dialogando com os professores, com os técnicos, mormente os que vivenciam a educação.
Ainda não houve neste país uma pesquisa junto aos diversos segmentos da vida escolar, inclusive no universo dos familiares, das comunidades circunvizinhas aos colégios, para perfis mais próximos da realidade social dos educandos, objetivando sermos o contexto e não apenas o texto que é a fala e, por vezes, a falácia de desavisados e apressados. O que mais se pretende, além da universalização praticamente alcançada, é a permanência dos alunos num processo pedagógico de qualidade.
Uma escola cidadã, capaz de interagir os temas transversais, os parâmetros curriculares nacionais, o pensamento cognitivo, as inteligências múltiplas e emocionais, a formação ética e moral, religiosa, apta a abrir as portas das universidades e os caminhos de um mercado de trabalho cada vez mais competitivo e globalizado.
Acreditar é preciso... Seja de crença a nossa profissão de fé nos governos, o federal e os estaduais, além dos municipais recém-iniciados, para que o Brasil encontre, pela via da educação, o seu desenvolvimento social, que se deseja justo e equânime.
Publicado no Diário de Pernambuco
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