segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Uma escola só para gays

Uma escola só para gays
Ensino/ Instituição terá cursos para lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros
Rodrigo Couto
rodrigocouto.df@dabr.com.br

Brasília - Líder mundial em crimes de natureza homofóbica - quase 3 mil (2.998) assassinatos desde 1980, sendo 190 somente em 2008 (veja quadro) -, o Brasil se prepara para receber, em março de 2010, a primeira escola de cursos técnicos destinada especificamente a lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros (LGBTTT).

Um dos objetivos do estabelecimento, que vai funcionar em Campinas (SP), é combater a homofobia e pautar a discussão sobre a temática da população homossexual, que, geralmente, não consta nos currículos das instituições tradicionais. Apesar de aprovarem a iniciativa, integrantes do grupo Klaus - único grupo universitário de apoio à diversidade sexual no Distrito Federal - alertam que o local não deve limitar o futuro profissional desse público. Pelo contrário, deve ser o ponto de partida. "As pessoas vinculam muito nossa opção às profissões de cabeleireiro e design de moda. Sem desmerecer essas atividades, somos capazes de fazer outras coisas", afirma Douglas Gomes, 23 anos, estudante de serviço social da Universidade de Brasília (UnB) e um dos coordenadores do Klaus.

Além da visibilidade à cultura gay, a Escola Jovem LGBTTT pretende ajudar os jovens a se aceitar. "A importância do projeto é divulgar a cultura LGBTTT. Os grandes movimentos sociais têm como estratégia valorizar suas manifestações, assim como os movimentos negro e feminista. Só vamos poder construir uma identidade e possuir um senso de pertencimento a uma comunidade valorizando a nossa própria cultura, desprezada por vários setores da mídia e outros setores retrógrados e fundamentalistas da sociedade", explica o diretor da instituição, Deco Ribeiro, que também coordena a E-Jovem, organização não governamental que compõe uma rede nacional de juventude gay, presente em 20 cidades das cinco regiões do país.

Prioritariamente, serão matriculados jovens entre 12 e 20 anos. Se houver vagas, pessoas de outras opções sexuais (heterossexuais) e faixas etárias poderão participar.Estarão disponíveis aulas de expressão gráfica, cênica e artística, além de um curso para formação de drag queens. "A grade curricular engloba aulas de música, cinema, dança, teatro, webTV, além de criação de revistas, livros, CDs e DVDs", observa Ribeiro. A escola vai oferecer bolsas de estudo a jovens residentes fora de Campinas.

Apesar de a escola permitir matrículas ao público heterossexual, o sociólogo e coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, acha difícil outros públicos frequentarem a instituição. "É possível, mas o preconceito é grande", observa. Na avaliação dele, a criação da escola é importante para chamar atenção para as dificuldades enfrentadas pelo público LGBTTT nos estabelecimentos tradicionais. "Porém, em termos educacionais, é melhor ter escolas inclusivas, que reunam todos os públicos, mesmo sabendo que o machismo e o sexismo são alarmantes", pondera.

Fonte:

DIÁRIO DE PERNAMBUCO - 24.01.2010

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