quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Entidades defendem radicalização do fórum

Entidades defendem radicalização do fórum
Publicado em 26.01.2010

Para representantes da CUT e do MST que discursaram ontem, dia de abertura do evento, o Fórum Social Mundial deveria se tornar um movimento de massas contra o imperialismo e neoliberalismo

PORTO ALEGRE – Os principais movimentos sociais brasileiros defenderam ontem uma radicalização do Fórum Social Mundial (FSM). A proposta dividiu substancialmente o fórum, que funciona há dez anos apenas como espaço aberto de articulações das esquerdas mundiais. A CUT e o MST, co-fundadores do Fórum, estão alinhados a expressivas correntes de intelectuais e apoiados por partidos políticos, como o PT. A ideia é pressionar até transformar o FSM em um movimento mundial de massas, focado contra o neoliberalismo e o imperialismo. Parte relevante dos organizadores, no entanto, adianta que não permitirá a mudança.

“Nós avaliamos que corremos um sério risco de retrocesso da esquerda. Temos que pegar 10, 15 ideias das organizações e fechá-las. Ninguém aqui defende pegar em armas, mas se não fizermos grandes mobilizações de massa não haverá como enfrentar mais nada. Estamos numa fase da vida do fórum em que é preciso ser mais contundente”, disse João Felício, representante da CUT.

“Derrotamos a ideia do Estado mínimo, mas os capitalistas voltaram a usar o Estado para se rearticular. Vou comparar a um jogo de futebol: o FSM tem sido o vestiário, a concentração. O jogo se decide no campo e é lá que nós, os movimentos, estamos. Agora o fórum precisa nos ajudar mais, para não perdermos o jogo”, concordou João Pedro Stédile, do MST.

A proposta contraria o único consenso mundial do FSM, a Carta de Princípios, que diz que o fórum “não pretende ser uma instância representativa da sociedade civil mundial”. De acordo com Stédile, o FSM não pode ser “uma reunião de sabidos para cagar regras para os outros”.

Os dois líderes foram aplaudidos, mas nem todos concordaram com eles. “Para mim é o velho polvo da política velha da esquerda que fica embaixo da mesa o tempo todo. O FSM é mesmo um longo processo de educação política. O fórum defende uma política diferente dos partidos, das decisões centralizadas. Colocar uma perna a mais no fórum, como querem, é paralisá-lo, é acabar com ele”, reagiu Chico Whitaker, da Comissão Brasileira de Justiça e Paz, um dos fundadores do FSM.

A marcha de abertura do fórum, ontem à tarde, em Porto Alegre, reuniu diferentes tribos de participantes do evento: de sindicalistas a babalorixás, de travestis a feministas, de estudantes a políticos, que se concentraram na Largo Glênio Peres, ao lado da prefeitura, para caminharem até a Usina do Gasômetro. A PM estimou a presença de cinco mil pessoas. Um carro alegórico, com figuras mascaradas dançando à frente no chão, encenava a agressão ao meio ambiente.


Fonte:

Jornal do Commércio

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