terça-feira, 13 de outubro de 2009

Clipping 12.10.09

JORNAL DO BRASIL - 11.10.2009 - PRIMEIRO CADERNO - COLUNA ANA RAMALHO
Anna Ramalho
Vivendo perigosamente A ONG Gajop (Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares) – que, em 1997, ajudou a elaborar o modelo de Proteção a Testemunhas que vigora no país – abriu o berreiro: classificou a situação atual do programa de proteção como “insuficiente”. E anunciou que não apoia mais o governo na gestão dos programas.

Tudo ao contrário A denúncia é reflexo de reclamações de algumas testemunhas que se mudam para locais onde não podem trabalhar, nem mesmo têm acesso a moradia decente. Para o Gajop, o programa coloca as testemunhas em risco.

JORNAL DO COMMERCIO - 12.10.2009 - INTERNACIONAL

» AFEGANISTÃO
Representante da ONU admite fraude em eleição
Publicado em 12.10.2009
CABUL – O norueguês Kai Eide, diretor da missão da Organização das Nações Unidas (ONU) no Afeganistão, admitiu ontem que houve fraude generalizada nas eleições presidenciais de agosto no país. No entanto, ele recusou-se a entrar em detalhes para não atrapalhar a recontagem dos votos suspeitos.
A admissão de Eide vem à tona após seu ex-vice, Peter Galbraith, ter denunciado que ele vinha tentando acobertar fraudes em benefício do presidente Hamid Karzai. Galbraith deixou o cargo depois de desentender-se com Eide.
Em entrevista coletiva concedida ontem em Cabul, Eide demonstrou irritação com as denúncias: “Parte dessas acusações baseia-se em conversas privadas ocorridas enquanto ele (Galbraith) era recebido em minha casa. Conversas em uma mesa de jantar devem permanecer privadas”. Segundo ele, algumas das acusações de Galbraith são falsas ou foram retiradas do contexto.
Eide também declarou que números específicos sobre a quantidade de votos fraudados não passarão de especulação enquanto a recontagem não for concluída. Segundo ele, as acusações de Galbraith “afetaram todo o processo eleitoral”.
Na coletiva, Eide afirmou que continua “comprometido com o processo” e apontou as investigações sobre as fraudes como prova de que o sistema para descobrir fraudadores está funcionando.
Semana passada, Galbraith reafirmou suas declarações. Ele acusou a ONU de ter fracassado em exercer sua responsabilidade de fiscalizar as eleições, acrescentando que “a fraude poderia ter sido evitada”.
O governo dos EUA e seus parceiros internacionais esperavam que a eleição – o primeiro pleito presidencial realizado por afegãos – restauraria a legitimidade de um governo atormentado pela fraqueza política e pela corrupção. Em vez disso, as acusações mancharam a reputação de Hamid Karzai. Segundo resultados preliminares, Karzai lidera com 55% dos votos.

» EUROPA
Turquia e Armênia em acordo histórico
Publicado em 12.10.2009
Os chanceleres dos dois países deram sábado, em Zurique, primeiro passo rumo ao estabelecimento de relações entre armênios e turcos, pondo fim a uma inimizade que perdura desde a Primeira Guerra

ZURIQUE (Suíça) – Os chanceleres da Turquia, Ahmet Davutoglu, e da Armênia, Edouard Nalbandian, assinaram sábado, em Zurique, um acordo histórico para o estabelecimento de relações diplomáticas entre os dois países, pondo fim a quase um século de inimizade, provocada pelo genocídio de armênios supostamente promovido por forças turcas durante a Primeira Guerra Mundial.
A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, além do principal diplomata americano na Europa, Philip Gordon, e da chanceler suíça, Micheline Calmy-Rey, tiveram de intervir para que os dois lados chegassem a um acordo, após uma divergência de última hora relacionada às declarações finais de cada país. Ao final, o documento foi assinado com cerca de três horas de atraso pelos respectivos ministros de Relações Exteriores, e não houve discursos.
O acordo deve ser ratificado pelos parlamentos turco e armênio, e pode levar à reabertura da fronteira entre os dois países, fechada há 16 anos. A reaproximação, no entanto, vem enfrentando a oposição de nacionalistas de ambos os lados.
“O sucesso da Turquia em pressionar a Armênia a aceitar esses protocolos humilhantes e unilaterais provam, infelizmente, que o genocídio compensa”, disse Ken Hachikian, presidente do Comitê Nacional Armênio da América.
Vários países, porém, demonstraram apoio ao acordo, com os chanceleres dos Estados Unidos, Rússia, França e União Europeia presentes à assinatura. Os armênios acusam os turcos de terem promovido um genocídio contra a minoria durante a Primeira Guerra Mundial.
O presidente armênio, Serge Sarkisian, havia dito que seu país estava tomando “decisões responsáveis” ao normalizar relações com a Turquia, apesar do que chamou de “feridas incuráveis do genocídio”.
O acordo pede a criação de uma comissão para discutir “a dimensão histórica” da matança de cerca de 1,5 milhão de armênios. A discussão deve incluir “um exame científico imparcial dos registros históricos para definir problemas existentes e formular recomendações”. A cláusula é vista como uma concessão à Turquia, que nega o genocídio, alegando que o número é exagerado e que os mortos foram vítimas de guerra civil.
Ontem, porém, o premiê turco, Recep Erdogan, condicionou a abertura das fronteiras entre os dois países à saída das tropas armênias de Nagorno-Karabakh, enclave ocupado por armênios no Azerbaijão, centro de tensões regionais.

» IRLANDA
Dissidência do IRA renuncia à violência
Publicado em 12.10.2009
DUBLIN – O Exército Irlandês de Libertação Nacional (Inla, na sigla em inglês) – dissidência do Exército Republicano Irlandês (IRA) – renunciou ontem à violência contra o controle britânico na Irlanda do Norte.
O anúncio foi feito por Martin McMonagle, membro do braço político do grupo, o Partido Republicano Socialista Irlandês: “Após um processo de profundas discussões, consultas e análises, (o grupo) decidiu que a luta armada terminou”.
“O objetivo de uma república de 32 condados será alcançado unicamente pela luta política pacífica”, completou, referindo-se à reivindicação de uma Irlanda unificada. “É um desdobramento bem-vindo”, afirmou o chanceler da Irlanda, Michael Martin.
O anúncio coincidiu com a visita da secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, à Irlanda. Ela se encontrou ontem, em Dublin, com o primeiro-ministro do país, Brian Cowen, e instou o Reino Unido a conceder à Irlanda do Norte controle sobre seu Judiciário, com o objetivo de dar sequência ao processo de paz na região.
Combates entre grupos nacionalistas irlandeses e pró-Reino Unido mataram 3.600 pessoas até 1998, quando foi assinado um tratado de paz com os principais grupos de ambos os lados, incluindo o IRA. À esquerda do IRA, o Inla surgiu em 1975 e se tornou uma das mais cruéis guerrilhas republicanas.

DIÁRIO DE PERNAMBUCO - 12.10.2009 - VIDA URBANA
Muito além das palafitas
Menino de 13 anos é exemplo de que morar em comunidade pobre não é sinônimo de fracasso escolar
Silvia Bessa // silviabessa.pe@diariosassociados.com.br

Os que não moram lá a conhecem como "Favela do Bode". Os seus habitantes, "Comunidade do Bode". O garoto Tácio Lucas Lourenço de Santana, 13 anos, simplifica: "é minha casa".

Parece feliz com a mãe e dois irmãos numa palafita feita com remendos de madeiras gastas, fincada na encosta do Rio Capibaribe, com quatro metros de largura por quatro de comprimento, sem esgoto nem água encanada, uma cama, uma televisão e uma geladeira. Nada importa. Tácio tem um olhar brilhante; um sorriso largo. E, sem medo, relata sua rotina e apresenta a família, inflando o ego da mãe, Lúcia. É um menino-herói. Luta contra a pobreza, o envolvimento com o tráfico e a marginalidade, e tornou-se um dos melhores alunos da Escola Municipal Oswaldo Lima Filho, no Recife, onde cursa a 6ª série.

Na fotografia acima, um estudante-modelo para crianças e adolescentes de colégios públicos e particulares pelo esforço fora do comum para formar-se um homem do bem. "Um dia resolvi o que queriapara mim. Pensei no que minha mãe dizia", conta. Usou os livros como arma para crescer e ganhar respeito, quando pensavam que estava predestinado a entrar para a legião do mal. Tácio Lucas Lourenço de Santana estampa a capa e esta página do Diario de Pernambuco hoje, Dia das Crianças, pela coragem em ultrapassar as condições de pobreza onde mora, ser um bom aluno e superar dificuldades, dia após dia. Porque no Bode a rotina é desafiadora e o começo do fim por vezes acontece assim - nos primeiros anos da juventude.

A comunidade está localizada entre os bairros de Boa Viagem e Pina. Juntos, os dois formam um território no qual o número de homicídios no Recife assusta - como aponta levantamento do Observatório da Violência, da Secretaria de Direitos Humanos da Prefeitura, com base em dados do Ministério da Saúde. Somente em 2008, foram 71. Os jovens formam a maioria das vítimas.

Tácio é um dos que, nos bairros mais violentos do Recife, se apega ao estudo e luta sem alardes para garantir o futuro. Conseguiu, como apoio da família e dos professores, elevar sua importância social e, por este motivo, foi escolhido como um dos estudantes da série de reportagens Meninos-Heróis, iniciada ontem e que segue até a próxima quarta-feira. Nela, matérias que contam histórias de superação e bom desempenho escolar de meninos e meninas de bairros com altos índices de criminalidade da cidade. Elaborada após 20 dias de investigação e visitas a essas áreas, as reportagens procuram enfatizar o que nem sempre os pré-adolescentes e jovens percebem: independentemente da condição social na qual estão inseridos, o sucesso na vida depende sobretudo da dedicação deles próprios.

"O que fez meu filho se tocar foi o diálogo e o incentivo para que ele fosse em frente, enfrentando as dificuldades de cabeça pra cima. O papel da mãe é este: acompanhar o desenvolvimento do filho", diz Lúcia Maria Lourenço, 30 anos, falando de sua experiência. Lucinha, como é conhecida nas palafitas do Bode, procura milimetrar o tempo do garoto. "Os jovens do Bode têmmuito problema com drogas e isso me preocupa. Por isso, levo ele para a escola, vou conversar com o professor, procuro saber o que ele está fazendo durante o dia. Acho isso muito importante", diz ela, que trabalha como diarista.

Lúcia está em sintonia com o professor de matemática do menino, Ivanildo Luís, que diz: "Tácio tem me surpreendido muito. Exemplos como ele são fundamentais para nós, educadores. Aqui (na escola Oswaldo Lima Filho), quase todo mundo mora em comunidade pobre e tem relato de violência", afirma o mestre. Na mesma escola, existem outras histórias semelhantes, como a do colega de futebol de Tácio, Pedro Henrique Ferreira. Na cidade, há centenas. A torcida dos professores é para que as famílias e os garotos percebam que toda criança e jovem tem potencial para seguir a trilha que quiser.

No caminho inverso dos números

Algumas crianças e jovens do Recife devem ser considerados mais vulneráveis que outros porque residem sob condições sociais precárias e em áreas com altas taxas de criminalidade. Vejamos os números:

- A cidade contabilizou 914 homicídios no ano passado.
- Dez bairros do Recife concentraram 41% dos registros de mortes violentas: Boa Viagem, Pina, Cohab, Ibura, Imbiribeira, , Santo Amaro, Várzea, Nova Descoberta, Água Fria e Campo Grande.
- Justifica-se uma preocupação maior de pais, professores e especialistas na área educacional com os garotos das áreas mais violentas do Recife. Eles devem sentir o que dizem os números: a maioria absoluta das mortes atinge recifenses do sexo masculino: 94%

Portanto, os meninos são alvos mais fáceis para a criminalidade.

- Quando se avalia os dados criminais, percebe-se a exclusão racial: 92% dos mortos são pardos ou negros.
- Apesar de ter-se verificado pequena redução no número absoluto de homicídios, o perfil dos mortos variou pouco de 2007 para 2008. É a confirmação de que a "cor de pele" é um problema secular no país.

Fonte: Prefeitura do Recife/Secretaria de Direitos Humanos e Segurança Cidadã

Exemplos positivos


O que garotos como Tácio, do Bode; Pedro, de Brasília Teimosa; Delrípedes, da Cohab; Max, do Ibura; Priscila, do Coque; Bia e Evandro, da Iputinga, promovem são transformações conjunturais. Eles têm poderes para causar

grandes impactos numa família, numa escola e numa comunidade. "O rompimento da pobreza começa pela escola. E iniciativas pessoais para mudar a realidade podem gerar uma reflexão generalizada. O resultado social pode ser muito positivo quando essas iniciativas deixam de ser pontuais e passam a ser replicadas", analisa o doutor em Sociologia Paulo Roberto Corbucci, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

A teoria é comprovada nas ruas e escolas dos bairros visitados pela reportagem do Diario: os bons alunos, aqueles que conquistam boas notas e conseguem manter-se longe da criminalidade, influenciam irmãos e colegas de turma, além de virar motivo de orgulho para determinados grupos. "Voltei até a estudar. No meu caso, Tácio me dá o exemplo e eu dou exemplo para ele", diz a mãe dele, Lúcia de Santana.

Mas a multiplicação de relatos de garotos pobres estudiosos do Recife depende de uma parceria entre governos e sociedade, frisa o sociólogo Paulo Corbucci, em entrevista ao Diario por telefone, de Brasília, onde reside. Pesquisador de indicadores sociais e educacionais, Corbucci afirma que as condições de vida de cada pessoa interferem muito no que o indivíduo se torna. Pondera, no entanto, que há variantes capazes de mudar um destino, como vem acontecendo com alguns meninos na capital.

As conquistas estão atreladas às pequenas oportunidades a que cada um tem acesso, ao ponto de vista individual de cada criança ou jovem diante das adversidades e ao acompanhamento de uma rede de proteção oferecida a ele até a fase adulta. "Também não adianta se o cidadão chega bem nos estudos e não tem emprego. Aí, a gente tem de pensar de forma mais ampla", completa o sociólogo. Ele destaca a necessidade de se ampliar a quantidade de cursos de capacitação e da adoção de uma política macro-econômica voltada para a educação. "Para começar, é preciso mais recursos. Hoje, se investe cerca de 4,4% do Produto Interno Bruto brasileiro em educação. O ideal é que sejam 6%, como prevê a meta do Ministério da Educação", diz.

Se o investimento aumentar, serão maiores as chances de garotos como os mostrados nesta reportagem. Casos como o de Tácio e o de outro estudante da Escola Oswaldo Lima Filho, Pedro Henrique de Holanda Ferreira, também de 13 anos. Dedicado aos estudos, Pedro tem bom comportamento na sala de aula e boas notas. É referência para alguns professores e o desempenho dele pode ser creditado à soma dos fatores elencados pelo sociólogo para garotos da periferia com histórias de sucesso: Pedro é cuidadoso com as tarefas escolares e conta com o acompanhamento dos pais no seu desenvolvimento - ou seja, com a família, braço da rede de proteção social. "Acho importante participar. Estando perto, talvez a gente possa evitar que eles desviem o caminho", crê o pai de Pedro, o vigilante Antônio Ferreira, 36 anos, criadona comunidade do Coque, onde viu parte de uma geração de colegas morrer vitimados pelo crime.

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