terça-feira, 13 de outubro de 2009

Clipping 10.10.09

JORNAL DO COMMERCIO - 10.10.2009 - BRASIL

» IBGE
Quase metade das crianças na pobreza
Publicado em 10.10.2009
A Síntese dos Indicadores Sociais do IBGE mostra que 44,7% dos brasileiros com até 17 anos vivem em famílias com menos de meio salário mínimo per capita. No Nordeste, esse índice sobe, atingindo 66,7%

Diogo Menezes
dmenezes@jc.com.br
Com agências
Uma lona plástica no lugar do telhado. Papelões substituem a cama. Plásticos e pedaços de lençol rasgados fazem as vezes de cobertor. Há mais de 20 anos que a rotina de Darli Maria dos Santos, 33 anos, não muda. Desde os 7 anos de idade decidiu morar na Rua do Imperador, Centro do Recife. “Estava cansada de não ter o que comer na casa da minha mãe. Decidi não ter o que comer na rua. Pelo menos sempre aparece alguém para ajudar”, disse ela, que divide a “casa” com o companheiro, o flanelinha Jamerson Frazão dos Santos, 18, e o filho, um menino de 3 anos. “Sustento minha criança com o que recebo do Bolsa Família (R$ 90). É bom, porque ganho o dinheiro e meu filho não fica analfabeto como eu. Meu marido ganha cerca de R$ 5 por dia como flanelinha”, completa.
O caso de Darli e de seu filho se encaixam bem nos dados da Síntese de Indicadores Sociais, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo o estudo, que se baseia no resultado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada em setembro, quase metade das crianças e adolescentes com até 17 anos no País estavam em situação de pobreza em 2008. Ou seja, 44,7% da população nessa faixa etária vivia com menos de meio salário mínimo per capita. A situação fica ainda pior no Nordeste, onde 66,7% das crianças e adolescentes encontravam-se nessa situação.
Mesmo com o número elevado, houve diminuição em relação a 1998, quando a proporção em situação de pobreza era de 73,1%. O IBGE atribui o avanço ao desenvolvimento de programas de transferência, como o Bolsa Família. “É o que ainda me faz comprar comida para dar ao meu filho”, diz Darli.
A pesquisa mostra também que 18,5% das crianças e adolescentes brasileiras viviam, em 2008, com rendimento per capita de até 25% do salário mínimo, situação considerada de extrema pobreza. Em 1998, 27,3% dessa população se enquadravam nessa classificação.
ESCOLARIDADE
Outro dado alarmante trazido pela Síntese dos Indicadores Sociais é que mais da metade dos brasileiros (50,2%) não completou o ensino fundamental, embora entre 1998 e 2008 tenha ocorrido um aumento de 15,1% no número de pessoas de 25 anos ou mais de idade que completaram oito anos de estudo. A pesquisa registra ainda que 21,5% dos entrevistados tinham completado o ensino médio. Já em relação ao ensino superior, apenas 9,5% concluíram a faculdade.
Uma boa notícia, porém, é que dobrou no País a proporção de jovens de 18 a 24 anos que cursam uma universidade. Segundo o estudo, a taxa passou de 6,9% para 13,9% entre 1998 e 2008. O índice de brasileiros que frequentam uma instituição de ensino superior (independentemente da idade), porém, é de 30%, segundo dados da Unesco.
A informação – que representa um salto para padrões brasileiros, mas ainda deixa o País distante das nações desenvolvidas – coincide com um período de expansão das instituições de ensino superior particulares no País e a criação do Programa Universidade Para Todos (ProUni), que dá milhares de bolsas por ano a alunos de escolas públicas em universidades privadas.
“Foi um salto grande”, afirmou o pesquisador Cláudio Moura e Castro. “Não dá para ir mais rápido.” Segundo ele, no Brasil, o dado que não leva em conta a idade do estudante (chamado de frequência bruta) é mais importante do que o que só considera os alunos em idade e série adequadas (frequência líquida). Isso porque, enquanto o segundo indicador mostra a eficiência do sistema educacional, o primeiro mede o resultado.
Também houve expansão no número de pessoas cursando o ensino médio no período, com salto de 76,5% para 84,1%, em 2008. Desse total, 50,6% dos estudantes estão na série adequada à idade, o que também representa um progresso – em 1998, o índice era de 30,4%.

» IBGE
Mais de 1 milhão de jovens são inativos
Publicado em 10.10.2009
Segundo o estudo, 5,37% dos brasileiros com idades entre 18 e 24 anos não trabalhavam, estudavam ou cumpriam afazeres domésticos em 2008. Nesse grupo, 943.675 eram homens e 300.344, mulheres

RIO – Mais de 1,2 milhão de jovens de 18 a 24 anos não exerciam, em 2008, nenhuma atividade produtiva no Brasil, segundo números apresentados ontem pelo IBGE na Síntese de Indicadores Sociais. Essa enorme inatividade juvenil atingia 5,37% dos 23.242.000 residentes dessa faixa etária no País e se deve, em boa parte, ao desemprego dos mais jovens.
Segundo o IBGE, a inatividade era maior no sexo masculino, com 943.675 homens que não trabalhavam, não estudavam e não ajudavam em afazeres domésticos, e 301.591 mulheres na mesma situação. Entre os rapazes, havia 300.344 inativos com idades de 18 e 19 anos que nada faziam e 643.335 de 20 a 24 anos. Entre as garotas, foram 88.209 na primeira faixa e 213.382 na segunda.
O grande número de jovens sem atividade produtiva chamou a atenção da pesquisadora Lara Gama, do IBGE, que trabalhou no capítulo referente a crianças, adolescentes e jovens da síntese lançada ontem. “Uma parte dessas pessoas sem atividade estava procurando emprego, cerca de metade dos homens que disseram não fazer nada estava nessa situação”, diz. Lara lembra que o IBGE limitou-se a apresentar aos entrevistados cinco opções de resposta – só trabalha, só estuda, trabalha e estuda, cumpre afazeres domésticos e não faz nada. Não perguntou, porém, o motivo da inatividade. “Outra parte pode ter deficiências, doenças ou simplesmente não têm uma ocupação, mas não é possível determinar o motivo.”
Ela diz que a falta de atividades é menor no sexo feminino por vários motivos: as mulheres brasileiras estão entrando mais fortemente no mercado de trabalho e, quando não têm emprego, em geral se incumbem de tarefas domésticas.
Uma quantidade muito maior de jovens na mesma faixa etária, porém, declarou exercer atividades produtivas. Ao todo, 3.853.755 garotas e rapazes dessa idade, 16,58% do total, acumulavam trabalho e estudo. Outro grupo, formado por 3.236.267 pessoas, só estudava, enquanto 11.051.503 só trabalhavam. Na idade de 20 a 24 anos, eles eram mais da metade: 53,5%, o equivalente a 8.860.135.
MELHORIAS
A inatividade de parte expressiva dos jovens brasileiros se dá em um quadro de melhoria da distribuição de renda, embora com permanência de grandes níveis de desigualdade. “Tais melhoras podem ser atribuídas ao efeito de políticas públicas de transferência de renda implementadas nos últimos anos”, afirma a Síntese de Indicadores Sociais, referindo-se a programas sociais como o Bolsa Família.
Outro dado positivo foi o avanço do rendimento dos jovens trabalhadores no período de 1998 a 2008. Na faixa etária de 16 a 24 anos, o percentual dos que ganham mais de um salário mínimo passou de 38,1% para 49,1%. E recuou a proporção de jovens que trabalhavam 45 horas ou mais por semana, de 38,9% para 28,8%.
O estudo também aponta a redução da população brasileira mais jovem. Em 1998, os jovens de 0 a 6 anos eram 13,2% da população, passando a 10,2% no último ano. Menos da metade da população brasileira (43,2%) estava na faixa de 0 a 24 anos, o que coloca o Brasil entre os países em processo de envelhecimento. Nos EUA, esse número é 34,3% e, no Japão, país com população mais velha, 23,4%.
Cresce presença de negros entre os mais abastados
Publicado em 10.10.2009
RIO – Os brasileiros que se autodeclaram pretos ou pardos continuam sendo minoria no seleto grupo do 1% mais rico do País. Mas a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE registra que, em 10 anos, houve aumento de 8% para 15% na proporção dos que, dentro dessa elite econômica, identificaram-se como pretos ou pardos.
Tal faixa de renda tinha, em 2008, 1,8 milhão de pessoas, cuja renda familiar per capita média era de R$ 7.259. Ninguém com rendimento per capita inferior a R$ 4,4 mil estava nesse seleto grupo.
O pequeno avanço na distribuição da riqueza, no entanto, não aconteceu quando se analisam apenas os dados de pobreza. Entre os brasileiros que estão entre os 10% mais pobres, o percentual de autodeclarados pretos ou pardos no ano passado era de 74%. Uma década antes, essa proporção era ligeiramente menor (72%). No total da população, pretos e pardos representam pouco mais da metade (51%). Em 1998, eram 45%.
Para Ana Lúcia Sabóia, coordenadora da pesquisa, é preciso considerar que, como é o próprio entrevistado que diz ao pesquisador do IBGE qual é sua cor ou raça, esse aumento de pretos e pardos na elite pode estar refletindo também o fato de mais brasileiros entre os mais ricos estarem se identificando assim.
Para o sociólogo Simon Schwartzman, ex-presidente do IBGE, o mais provável é que o aumento nos autodeclarados pretos e pardos entre os 1% mais ricos seja resultado de maior mobilidade social. Ele destaca que, separando nesse grupo pretos de pardos, os primeiros representam 2%, e os demais, 13%. Em sua avaliação, se o aumento verificado fosse causado pela autodeclaração, o número dos que se consideram pretos seria maior que 2%.
Os dados do IBGE mostram também uma melhoria da escolaridade de pretos e pardos. De 1998 a 2008, a proporção desse grupo populacional com ensino superior completo no total de adultos (25 anos ou mais) passou de 2,2% para 4,7%.
A diferença para a população autodeclarada branca, no entanto, ainda é significativa, pois esse grupo populacional variou de 9,7% para 14,3% no mesmo período.
Cai desigualdade entre ricos e pobres no Brasil
Publicado em 10.10.2009
RIO – Em três anos, de 2006 a 2008, diminuiu muito rapidamente a distância entre os dois extremos de rendimentos da sociedade brasileira, o que reduziu a desigualdade social no País, apontou a Síntese de Indicadores Sociais. A melhoria na renda contrasta com dados referentes a bens e serviços: apenas 61% dos domicílios brasileiros tinham simultaneamente, no ano passado, água encanada, coleta de esgoto e de lixo e iluminação elétrica.
Em 2006, a razão entre a renda familiar per capita dos 20% mais ricos e dos 20% mais pobres era 20,2, ou seja, o grupo mais rico ganhava 20,2 vezes a renda do mais pobre. No ano seguinte, essa relação caiu a 18,7. Em 2008, chegou a 18. O nível ainda é alto (em países desenvolvidos, fica em torno de 4 a 6), mas já mostra redução na desigualdade entre os brasileiros, segundo Ana Lucia Saboia, coordenadora-geral do estudo.
O IBGE também apurou que caiu a proporção de pessoas com rendimento familiar per capita abaixo de 60% do mediano. Como foi estimado em R$ 415, os 60% eram R$ 249 no ano passado – essa medida serve para mensurar a pobreza dos grupos sociais. Em 2006, 37,3% ganhavam menos que essa fronteira. Em 2007, 36,1%. No último ano, 33,8%. Também caiu, entre 2001 e 2008, o diferencial entre o rendimento familiar mensal per capita das famílias dos 10% mais ricos em relação aos 40% mais pobres (de 22,1 para 16,8).
Os números foram comemorados pelo diretor do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, Marcelo Néri. Ele lembrou que a queda começou em 2001 e se acentuou a partir de 2004, porque se associou ao crescimento econômico. “Não era mais como em 2001, quando o bolo caiu e a parte dos pobres caiu menos.” Os problemas de distribuição de renda, porém, continuam. Enquanto o rendimento familiar médio ficou em R$ 720, metade das famílias vivia com menos de R$ 415 – salário mínimo vigente em setembro de 2008.
Mulheres estudam mais, mas seguem ganhando menos
Publicado em 10.10.2009
RIO – As mulheres têm mais escolaridade, mas ganham menos em todas as posições na ocupação, revela a Síntese de Indicadores Sociais. Em 2008, na área urbana do País, a média de escolaridade das mulheres ocupadas foi de 9,2 anos de estudo, enquanto para os homens foi de 8,2 anos. Na área rural, a média de anos de estudo, “apesar de estar em patamares mais baixos”, também é favorável às mulheres (5,2 anos ante 4,4). Porém, em todas as posições na ocupação, o rendimento médio dos homens é maior que o das mulheres.
A maior diferença de rendimento médio é na posição de empregador, onde os homens auferem, em média, R$ 3.161, enquanto as mulheres recebem apenas R$ 2.497, “o que corresponde a dizer que as mulheres empregadoras recebem 22% a menos que os homens”, segundo a pesquisa.
O avanço das mulheres no mercado de trabalho e na educação também é destaque no estudo. Os avanços foram fortes sobretudo entre as mais jovens. Segundo a pesquisa, entre 1998 e 2008 aumentou de 64,8% para 68,5% a proporção de jovens de 20 a 24 anos do sexo feminino que estavam no mercado de trabalho.

INTERNACIONAL

OBAMA NOBEL DA PAZ
Um prêmio para a esperança
Publicado em 10.10.2009
“Esforços no fortalecimento da diplomacia internacional e cooperação entre os povos” deram ao presidente dos EUA, Barack Obama, o Prêmio Nobel da Paz

WASHINGTON – Nem o próprio presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, acreditou quando foi acordado pelo porta-voz da Casa Branca com a notícia de que havia ganho o Prêmio Nobel da Paz 2009, por, segundo o comitê organizador em Oslo, “seus extraordinários esforços no fortalecimento da diplomacia internacional e cooperação entre os povos”. Apesar de Obama estar no cargo há apenas nove meses – o que foi apontado por críticos como uma “precipitação” –, o Comitê do Nobel elogiou seus esforços para reduzir o arsenal nuclear do planeta e por “criar um novo clima internacional”.
Obama afirmou que recebeu a notícia “com surpresa e humildade por passar a fazer parte de um grupo de pessoas cuja luta pela paz é tão inspiradora”. Admitiu que não havia tido tempo suficiente para realizar feitos que justificassem o Nobel, mas também deixou claro que a decisão indica a esperança por mudanças e que, neste sentido, interpretava a homenagem como um “chamado à ação”.
“Para ser honesto, eu não sinto que mereça estar na companhia de tantas figuras transformadoras, homens e mulheres que me inspiraram e inspiraram o mundo inteiro através de sua corajosa busca da paz”, disse Obama, que vai doar os US$ 1,4 milhão do prêmio para a caridade. “E eu sei que através da história, o Prêmio Nobel da Paz não foi usado somente para honrar conquistas específicas, ele também foi usado para dar destaque a uma série de causas. E é por isso que eu aceitarei este prêmio como um chamado à ação, um chamado comum a todas as nações para que confrontem os desafios do século 21.”
O presidente disse que não esperava ter sido acordado dessa forma ontem e que, após receber a notícia, sua filha mais velha, Malia, 10 anos, entrou no quarto e disse: “Papai, você ganhou o prêmio Nobel da Paz e hoje é aniversário de Bo (o cão da família)”. E então sua outra filha, Sasha, 7, acrescentou: “E ainda temos um fim de semana de três dias”, referindo-se ao feriado do descobrimento da América na segunda-feira.
Para ele, suas filhas estavam, inconscientemente, colocando a situação numa perspectiva mais realista. Foi mais ou menos o que fez Thorbjorn Jagland, ex-premiê da Noruega que preside o Comitê do Nobel, explicando a escolha de Obama: “É importante dar o reconhecimento a pessoas que se esforçam e são idealistas. Mas não podemos fazer isso todos os anos. De quando em quando, precisamos mergulhar nos domínios da prática política. É sempre uma mistura de idealismo e prática política que pode mudar o mundo”.
A escolha de Obama, um presidente que ainda lida com duas guerras – no Iraque e no Afeganistão – e há apenas nove meses no cargo, é certamente a mais ousada. Mas Jagland não se importa com as críticas: “Raramente uma pessoa com a mesma amplitude de Obama capturou a atenção do mundo e deu a seu povo a esperança de um futuro melhor. Sua diplomacia é fundamentada no conceito de que aqueles que lideram o mundo devem fazê-lo numa base de valores compartilhados pela maioria da população mundial”.
Suas políticas e ações no campo internacional colocaram Obama como o oposto de George W. Bush – unilateral, belicista, pouco preocupado com o aquecimento global e com os esforços diplomáticos. Para muitos, Obama ganhou o Nobel por não ser Bush. Suas movimentações vão no sentido contrário: a disposição de esgotar o diálogo nas relações internacionais até que medidas mais fortes tenham que ser usadas, o fortalecimento de instituições multilaterais, como Organização das Nações Unidas (ONU) e Organização dos Estados Americanos (OEA), a disposição de trabalhar em cooperação com outros países e a ampliação do fórum de discussões econômicas global para o G-20 de modo a incluir nações emergentes.
Euforia e prudência nas reações
Publicado em 10.10.2009
Chefes de Estado, como o presidente da França, Nicolas Sarkozy, elogiaram a escolha. Já o Talibã e o polonês Lech Walesa fizeram críticas à premiação

OSLO – Euforia e prudência marcaram a reação de líderes mundiais à escolha do presidente americano, Barack Obama, para o Prêmio Nobel da Paz deste ano. Em Paris, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, disse que a decisão marca “o retorno da América ao coração das pessoas do mundo” e creditou a vitória de Obama à “sua visão em favor da tolerância e do diálogo entre os Estados, a cultura e a civilização”.
Em contraste com o ânimo de Sarkozy, o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, preferiu enviar uma correspondência privada à Casa Branca e não fazer comentários públicos sobre a escolha.
Uma das reações mais contidas e críticas veio do ex-presidente polonês, Lech Walesa, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1983. Ele questionou se este era o momento de Obama ser premiado. “Tão cedo?”, indagou. Em seguida, Walesa mesmo respondeu: “Muito cedo”. Acrescentou que Obama “ainda não fez nenhuma contribuição” e “está num estágio inicial”. Para o polonês, o prêmio “é provavelmente para encorajar Obama a agir”.
O último presidente da extinta União Soviética, Mikhail Gorbachev, vencedor do Nobel em 1990, disse que o líder americano “contribuiu para uma mudança substancial na atmosfera do mundo”.
Oscar Arias, presidente costa-riquenho que recebeu o Nobel em 1987 e mediador da crise política em Honduras, qualificou a escolha de “visionária” e espera que a oposição americana “compreenda a dimensão das novas responsabilidades de Obama”.
O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o egípcio Mohamed ElBaradei, elogiou os esforços do premiado para conter a proliferação nuclear. Para o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, Obama “encarna um novo espírito de diálogo e empenho para enfrentar os maior problemas do mundo”, como mudanças climáticas, desarmamento nuclear e desafios para a segurança.
“Não percebemos nenhuma mudança de estratégia para a paz”, criticou Zabihullah Mujahid, porta-voz do Talibã no Afeganistão.
O presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmoud Abas, disse esperar “que a paz prevaleça na Palestina sob a presidência de Obama”. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, espera que Obama “faça avançar o processo de paz” no Oriente Médio.
Os recentes esforços feitos pelo líder dos EUA para conter a proliferação nuclear também receberam elogios do papa Bento XVI que disse esperar “que este importantíssimo reconhecimento venha a encorajar o empenho difícil, mas fundamental, com o futuro de toda a humanidade”.
“Prêmio Nobel está em boas mãos”, elogia Lula
Publicado em 10.10.2009
BRASÍLIA – Ao comentar a concessão do Prêmio Nobel da Paz a Barack Obama, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que se trata de “uma conquista de um presidente que anunciou medidas importantes para conter o armamento nuclear, e isso certamente fez com que os homens dessem o prêmio para ele”. E acrescentou: “O prêmio está em boas mãos”.
Lula informou que enviou um telegrama a Obama felicitando-o pelo prêmio e disse que talvez fale com ele por telefone. Ainda sobre a política antinuclear, Lula declarou: “Eu espero que a paz aconteça no mundo e que a gente não tenha bomba nuclear”.
O presidente destacou que o Brasil é um dos países cuja Constituição proíbe a utilização de armas nucleares. Ele disse acreditar que “o presidente Obama, certamente, vai partilhar com o povo dos Estados Unidos o prêmio que ganhou, porque o povo americano pela primeira vez elegeu um negro, e isso é um grande feito”.
Questionado sobre se também almejaria receber um dia o Prêmio Nobel da Paz, Lula respondeu: “Essa coisa não se almeja”. E brincou: “O dia em que eu almejar, eu me inscrevo, ou eu peço um abaixo-assinado”.
O assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, disse esperar que Obama aumente a pressão para a pacificação de Honduras. “Vamos aproveitar o prêmio que o presidente Obama merecidamente ganhou para que exerça a pressão sobre Honduras. Queremos que a pressão (para uma solução) aumente, sobretudo do governo americano”, disse ele, após almoço oferecido pelo presidente Lula ao seu colega da África do Sul, Jacob Zuma.
Muitos discursos, poucas ações

Publicado em 10.10.2009
Para especialistas ouvidos pelo JC, premiação foi precoce porque o pouco tempo à frente do governo foi insuficiente para Obama tirar seus planos do papel

Wagner Sarmento
wsarmento@jc.com.br
Há menos de um ano na Presidência dos Estados Unidos, Barack Obama teve pouco tempo para transformar seus discursos em ações efetivas, na opinião de especialistas que, a pedido do Jornal do Commercio, comentaram a escolha do presidente americano como o Nobel da Paz de 2009.
O historiador americano Marc Hoffnagel, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), acredita que a escolha foi precoce e causou desconforto até mesmo no ganhador. “Acho que Obama ficou muito incomodado. Politicamente, não foi a melhor coisa para ele. É um prêmio que o deixa numa saia justa”, afirma. Hoffnagel afirma que o Nobel da Paz coloca mais pressão sobre o líder americano para que ele efetive mudanças na política externa dos EUA, muito criticada na gestão do antecessor George W. Bush. “A expectativa em torno de Obama já era tão grande e agora todo mundo vai ficar esperando que ele resolva todos os problemas do mundo. Isso aumenta a responsabilidade”, alerta.
O especialista americano pondera que, nesses quase 10 meses à frente dos EUA, Barack Obama tem representado uma “pequena ruptura”, mas suficiente para causar no mundo uma sensação de alívio diante da agressividade de Bush. “Por isso, o Nobel acaba sendo um reconhecimento disso, mesmo que o campo de manobra de Obama seja pequeno, já que a oposição interna é muito forte e os conservadores reclamam que ele é mais presidente do mundo do que dos EUA”, observa. “Mesmo assim, o comitê que o escolheu dá um recado para o planeta que reconhece o esforço de Obama”, completa.
O coordenador do Gabinete de Apoio Jurídico às Organizações Populares (Gajop), Jaime Benvenuto, professor de direito internacional da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), também avalia que a premiação foi prematura. “Ainda é cedo. Não vejo algo que ele tenha feito que faça valer esse prêmio. São feitos pequenos, até agora, para a relevância de um Nobel da Paz. Obama não conseguiu um acordo no conflito entre Israel e Palestina, reforçou a presença militar no Afeganistão, tem agido de forma ambígua no caso de Honduras”, cita. Mas, para Benvenuto, o mais importante é o simbolismo do prêmio. “É uma pressão para que Obama se sinta mais comprometido com as causas mundiais”, pontua.
Já o geógrafo Jan Bitoun, também da UFPE, diz que a vitória de Obama representa a esperança de dias de paz. “Existe o pensamento de que ele é a expressão da esperança de paz, da mudança na política americana que ele está tentando implementar. Se foi justo ou não, é problema do júri. Na minha opinião, premiaram a esperança. E a esperança é uma força importante no mundo”, frisa.

Republicanos criticam prêmio para presidente
Publicado em 10.10.2009
WASHINGTON – A notícia de que o presidente Barack Obama ganhou o Prêmio Nobel da Paz foi alvo de censura do presidente do Partido Republicano, foi ridicularizada por blogueiros conservadores e gerou reclamações de liberais que acham que ele fez muito pouco para resolver as guerras no Iraque e no Afeganistão.
“O que o presidente Obama realmente conquistou?”, perguntou Michael Steele, presidente do Comitê Nacional Republicano. “É triste que a estrela de poder do presidente tenha ofuscado incansáveis defensores que conseguiram conquistas reais com seus trabalhos pela paz e pelos direitos humanos.”
O deputado republicano Gresham Barrett zombou do prêmio de Obama. “Eu não sei o que a comunidade internacional gosta mais: seus equívocos sobre o Afeganistão, a retirada dos mísseis de defesa no leste da Europa, o fato de ele ter dados as costas aos que lutam pela liberdade em Honduras, os mimos a (Fidel) Castro, o fato de ele ter tomado o lado dos palestinos contra Israel ou a falta de firmeza com o Irã”, disse Barrett.
PREMATURA
Para o governo iraniano, a decisão de atribuir o Prêmio Nobel da Paz a Obama foi “prematura”, destacando que era preciso esperar pela saída das tropas americanas do Afeganistão.
“Se o prêmio vai estimular a rejeição à política belicista e unilateral das administrações americanas precedentes e gerar uma atitude baseada na paz, não temos objeção”, disse o chanceler iraniano, Manuchehr Mottaki.
“Esperamos que isto o incentive a tomar o caminho da Justiça no mundo”, assinalou Ali Akbar Javanfekr, conselheiro do presidente Mahmud Ahmadinejad.
» HONDURAS
Militares reprimem ato contra o governo golpista
Publicado em 10.10.2009
TEGUCIGALPA – Forças militares do governo golpista de Honduras reprimiram com violência ontem um protesto que reuniu uma centena de seguidores do presidente deposto Manuel Zelaya diante do hotel em Tegucigalpa onde estão acontecendo as negociações para tentar sair da crise política no país. Anteontem, a missão da Organização dos Estados Americanos (OEA) finalizou suas atividades sem conseguir chegar a um acordo para quebrar o impasse.
Os policiais dispersaram os manifestantes com bombas de gás lacrimogêneo e jatos d’água. No entanto, vários rebeldes voltaram para o hotel, de onde foram novamente repelidos pelas forças da ordem.
“Mesmo que nos atirem bombas de gás, continuarei em pé de guerra, porque quero o presidente em quem votei, não o que foi instalado pelas Forças Armadas”, declarou a dona de casa Orlinda Cruz, 59 anos.
Na última segunda-feira, o governo de fato de Roberto Micheletti anunciou a revogação do estado de sítio no país. Contudo, a medida ainda não foi aplicada. “Eles estão se aproveitando de que o decreto continua vigente para fazer uso de suas armas contra o povo. Exigimos o fim da repressão. Não haverá diálogo enquanto continuarem a agredir os hondurenhos”, clamou um manifestante que preferiu não ser identificado.
Um policial disse à imprensa que a repressão dos protestos vai continuar. “O decreto continua vigente. As manifestações estão proibidas e vamos continuar coibindo elas”, afirmou.
A missão de chanceleres da Organização dos Estados Americanos (OEA), responsável pela instauração do diálogo entre Zelaya e Micheletti, pediu ao governo de fato que respeite os direitos humanos e revogue o estado de sítio.
Zelaya está refugiado na embaixada brasileira em Tegucigalpa desde o dia 21 de setembro, quando retornou ao país após ser expulso, em 28 de junho, em um golpe de Estado.
CIDADES

» PROGRAMA SOCIAL
Ibura e Jordão terão ações para evitar violência
Publicado em 10.10.2009
Localidades fazem parte de nova etapa do Governo Presente, que garante trabalho e estudo a jovens de comunidades com altos índices de homicídio

O governo do Estado incluiu ontem pela manhã a quarta área da Região Metropolitana do Recife no programa de prevenção à violência que visa dar oportunidades de trabalho e estudo para os jovens carentes de comunidades com altos índices de homicídios. Depois de Santo Amaro, Peixinhos e Ibura, chegou a vez de o Ibura de Baixo e o Jordão aderirem ao Governo Presente.
A partir de agora, a população da nova área beneficiada terá 33 ações de nove secretarias diferentes a serviço da prevenção da criminalidade. Para marcar o lançamento, uma grande tenda foi montada na Rua jornalista Edson Régis. Houve apresentação de grupos musicais e emissão de documentos pelo Instituto Tavares Buril (ITB).
Segundo o secretário de Articulação Social, Waldemar Borges, o Governo Presente se alia à repressão qualificada para construir um ambiente propício ao desenvolvimento da cidadania da população.
“Estamos completando um ano na primeira área, que foi Santo Amaro. De janeiro a setembro de 2009, tivemos 15 assassinatos lá. No mesmo período do ano passado, ocorreram 43 homicídios na comunidade”, comparou Waldemar Borges.
Até o fim deste ano, a meta do governo do Estado é levar o programa para mais dez áreas da Região Metropolitana do Recife. “Um dos programas de maior eficácia é o de mediação de conflitos. Estamos recebendo uma demanda maior do que a planejada e é o que a população tem apontado como ação de melhor resultado”, destacou o secretário.
Os programas de incentivo aos jovens também aparecem como os mais eficientes. Parte dos rapazes e moças incluídos em ações de capacitação e ensino no Ibura compareceu ao evento de abertura do projeto que contemplará as comunidades vizinhas.
Os amigos Jefferson Jonas Pereira e Wilson Josué Belchió se inscreveram no Projeto Salvar, do Corpo de Bombeiros. Os dois estão no ensino médio à noite e durante o dia fazem um curso de jovens brigadistas no Centro de Formação do Corpo de Bombeiros, no Curado, Zona Oeste do Recife. Para isso, recebem uma ajuda de custo de R$ 120, lanche e transporte.
“A gente vive num bairro onde muitos colegas já perderam a vida porque se afastaram da escola. Esse curso é uma chance que a gente tem de aprender uma profissão e tentar construir uma vida melhor no futuro”, disse Belchió.
“Estou guardando o dinheiro da bolsa para começar um cursinho pré-vestibular no ano que vem. Meu sonho é entrar na faculdade”, completou Jefferson.

DIÁRIO DE PERNAMBUCO - 10.10.2009
Editorial
O êxodo campo-cidade

As nações Unidas apresentaram, bem recentemente, um relatório circunstanciado sobre o êxodo rural. Contabilizaram que cerca de 200.000 pessoas saem anualmente do respectivo domus nas áreas rurais, e se dirigem às cidades, no que provocam uma espécie de inchação da maioria das metrópoles. As grandes cidades, acentuam as Nações Unidas, planejam o desenvolvimento urbano, mas só em parte, a parte onde irão residir os ricos e onde morará a classe média. Os pobres se espalharão pelas periferias citadinas. Se fosse possível resumir o conteúdo do Relatório denominado Habitat das Nações Unidas, dir-se-ia que "a urbanização acelerada gera desigualdade na distribuição da renda, provoca poluição e discriminação, além de aumentar a ocorrência de desastres".

É espantoso que a reprodução do êxodo campo-cidade de tais dimensões e consequências danosas à sustentação de uma vida saudável raro tenha mobilizado as autoridades públicas no sentido de diminuir o tamanho desse fluxo demográfico desordenado, ou de, ao menos, dar àspessoas que participam dele um arranjo que os aproxime de estar próximas de alcançar os padrões mínimos de urbanidade e civilidade. Na América Latina, assinalam os estudiosos da ONU, o Brasil está a meio caminho entre os países nos quais os migrantes ficam toda a vida expostos ao azar das circunstâncias e aqueles países onde se programam assistências dignas da melhor nota. Hoje, o Brasil, dado o avanço da economia industrial que por certo arrasta o feitio das migrações populacionais, tem qualquer coisa em torno de 10% da respectiva população nas cidades, número do qual saem aqueles que, bem ou mal, alojam-se nas favelas (29% do todo).

Se nos agarrarfmos ao fluxo campo-cidade como um todo, informa o relatório Habitat que, no mundo, um mês de saídas termina estabelecendo "uma cidade do porte do Rio de Janeiro", ou uma "Santiago do Chile de 6 milhões de habitantes". A urbanização desenfreada, comenta ainda o relatório em referência, além das consequências danosas já citadas no alto desta nota, "modifica o ambiente e gera novas ameaças como o desmatamento e a instabilidade das encostas", podendo dar lugar até mesmo a alguns tipos de enchentes. Daí que, dizem as Nações Unidas, "desde 1975, o número de desastres naturais cresceu quatro vezes".

África e Ásia são as regiões do mundo mais afetadas pela "urbanização acelerada": na África subsaariana, 62,2% dos moradores citadinos vivem em favelas. Em Serra Leoa, esse número sobe a esta cifra assombrosa: 97% da população do país. Na Ásia, há casos que causam espanto. No Camboja, 79% da população mora nas favelas, enquanto, na Tailândia, os favelados representam um quarto da população ou 26%. Na América Latina, um dos casos lamentáveis é o da Jamaica, que hoje contabiliza 60% da população como favelada.

O chefe do escritório das Nações Unidas para a América Latina e o Caribe, Alberto Paranhos, que trabalha no Rio de Janeiro, lembra que a habitação, o transporte e o emprego são as circunstâncias que terminam por determinar quem fica e onde. O favelado brasileiro, reconheceo pessoal das Nações Unidas que estuda a matéria, vive num país que reconhece "o direito à infraestrutura urbana daqueles que ocupam irregularmente um terreno". "O Brasil é vanguarda neste aspecto das migrações que continuamente estabelecem favelamentos"

VIDA URBANA

Mapa retrata a nova cara dos brasileiros
IBGE // Síntese dos Indicadores Sociais revela as mudanças na população do país nos últimos dez anos
Aline Moura e Marcionila Teixeira // Diario de Pernambuco

Qual a cara que o brasileiro assumiu nos últimos dez anos? Quem são os homens, mulheres, crianças, adolescente e idosos do país? O mapa que aponta as respostas acaba de ser redesenhado. Trata-se da Síntese dos Indicadores Sociais 2009 (SIS), documento formulado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Segundo a pesquisa, a última década foi suficiente para que políticas públicas de redução do trabalho infantil apresentassem resultados positivos. Um bom exemplo disso é a queda de 11,5% para 6,4% na taxa de ocupação de meninas de 10 a 15 anos de idade. Mas são essas mesmas meninas que ainda calejam as mãos e perdem anos de estudo como trabalhadoras domésticas. Calcula-se 136 mil delas no país.

Em meio ao salto histórico marcado por avanços, mesmo que pequenos em alguns aspectos, a mulher se mostra cada vez mais forte. Elas precisam conciliar estudo, trabalho e afazeres domésticos, já que de cada 100 mulheres 52 estavam ocupadas ou procurando trabalho em 2008. Dessas, 70% dividem seu tempo comas bancas escolares. Por isso também têm mais tempo de estudo que os homens. Mas não o mesmo salário e ocupação. Pelo menos ainda.

O estudo serve como alerta. O número de idosos aumentou e são necessárias providências urgentes para garantir uma infraestrutura de atendimento a essas pessoas. Como era de se esperar, por conta da sobremortalidade masculina, as mulheres ainda são maioria no país e têm maior expectativa de vida também: Segundo o estudo, entre 1998 e 2008, a esperança de vida ao nascer cresceu 3,3 anos para o brasileiro. Para a mulher, isso significa que ela pode esperar viver até os 69,3 anos, quando antes esse número chegava à casa dos 65,9 anos. Casamentos, educação, trabalho, renda... A SIS é um passeio pelo Brasil que merece ser detalhado no site do IBGE (www.ibge.gov.br).

Uma família, meio salário

Cleberson dos Santos é magrinho e, aos 9 anos, está bem abaixo da altura para sua idade. Depois de mostrar como empina pipa, na Avenida Agamenon Magalhães, contou nos dedos a quantidade de adultos da família - seis ao todo -, fazendo a ressalva de que nenhum tem carteira assinada. O termo "carteira assinada" não foi bem a palavra usada por Cleberson. O menino disse que os mais velhos da casa fazem "bico" e só o tio dele trabalha todos os dias da semana. Cleberson, na verdade, é um a mais no universo de 44,7% das crianças brasileiras que vivem em situação de pobreza no Brasil. No Nordeste e em Pernambuco, os dados são mais alarmantes, chegando a 66,7% e 67% respectivamente. Ou seja, mais da metade dos garotos e garotas com até 17 anos da região vivem em famílias com renda de meio salário mínino (R$ 232,5) por pessoa.

A mãe de Cleberson, Juliana Alves de Andrade, 24, confirmou as informações do garoto. Juntando o salário dos seis adultos da família, que moram na Ilha do Chié, no bairro de Campo Grande, dá umamédia de R$ 181 por pessoa ao mês. "Mas eu estudo", advertiu o garoto, confiante de que pode transformar a vida.

Embora as crianças sejam vítimas da pobreza, a mortalidade infantil no Brasil caiu de 36,40 para 23,59 para cada mil nascidos vivos nos últimos 10 anos. Nesse ponto, no Nordeste, os números são positivos, chegando a uma redução de óbitos infantis de 57,9 para 34,40 (mais de 20% de queda). No estado, o avanço foi maior, caindo de 61,8 para 37,10 de óbitos por mil nascidos vivos. Para a dona de casa Tatiana Nunes, 21, a queda pode ter relação com os avanços na saúde, com o aumento de exames pré-natais. Ela teve gestação de alto risco e foi devidamente atendida.

Na terceira idade, o analfabetismo

Dona Severina Maria da Silva, 65 anos, diz que fica na maior angústia quando vai a um consultório e recebe um diagnóstico escrito no papel. Na idade dela, explica, resultados de exames são importantes. "Só que eu não sei ler e fico numa expectativa danada, esperando que o doutor me explique direitinho ou que algum dos meus filhos leia para mim", conta. A senhora nasceu num engenho do interior, entre Palmares e Catende, na Mata Sul. Nunca conseguiu estudar. "Tentei duas vezes, mas não consegui aprender. Por isso desisti", lembrou, mostrando um pouco da realidade brasileira, quando se refere à terceira idade. Segundo a PNAD, a população brasileira idosa ainda tem altas taxas de analfabetismo: 32,2% não sabem ler e escrever e 51,7% não analfabetos funcionais (com menos de quatro anos de estudo). Os dados mostram que a média de estudos no Brasil só aumentou um ano quando se comparam os dados de 1998 aos de 2008, passando de 3 para 4,1 anos. A média no país ainda é maior que a do Nordeste, que chega a 2,7 anos deestudo para os maiores de 60. Quando esse recorte é feito em Pernambuco, no entanto, os números melhoram. Em 2008, a média de estudo dos idosos pernambucanos ficou em 5 anos.

Apesar do baixo nível de escolaridade, os índices de mulheres idosas que trabalham é bem superior ao de países europeus. Em 2008, os resultados mostram uma taxa de atividade elevada para as maiores de 60, atingindo um total de 20% delas, contra 10% dessa mesma população na Europa. Um possível reflexo de como vivem as mulheres de várias gerações. Nos últimos 10 anos a população de idosos aumentou de 8,8% para 11,1%.

E os puxadinhos só aumentaram



Casada há 12 anos, Fabiana Ferreira Coelho, 27, mora com o marido e os cinco filhos numa pequena casa na Ilha do Chié, no bairro de Campo Grande, um lugar que parece esquecido do poder público. Como 22,6% da população brasileira, a família sobrevive com apenas um salário mínimo. O dinheiro é curto, quase não chega ao fim do mês, e todos passam necessidade. "Tem dia que não tem comida", aqui, contou Fabiana.

Com tanto aperto financeiro, Fabiana diz que precisou dar um jeitinho para não pagar aluguel e a família construiu um puxadinho na casa da sogra. Hoje, ela divide a mesma casa (separada por uma parede) com o irmão do seu marido, o que deixa o espaço bem apertado. O número de pessoas que mora nessa situação caiu no Brasil, passando de 8,5% para 6,8% nos últimos 10 anos. Mas no Nordeste, há 60% a mais de chances de encontrar uma família assim. De 19,9 milhões de domicílios na região, 1,14 milhão tem duas ou mais famílias, o que mostra uma desigualdade em relação ao Sudeste do país.

Maria Iracema dos Santos,38, vive uma situação diferente de Fabiana, mas igualmente difícil. Ela não mora em puxadinho, mas toda sexta-feira precisa receber pão na Igreja Católica da Ilha do Chié, porque o dinheiro do marido não chega ao fim do mês. Direito a comprar roupa, só no final do ano, quando os bicos aumentam. Embora o valor médio do rendimento familiar seja de R$ 720, em 2008, metade das famílias brasileiras, como a de Maria Iracema, vive com menos de um salário mínimo. Como Maria Iracema, durante a tarde, várias mulheres se reúnem em frente à igreja para pedir pão. Apesar de tudo, as pessoas casam e querem ser felizes. O número de casamentos registrados até 2007 cresce 31,1% em relação a 1998

Conheça os indicadores

Criança/Pobreza: Em 2008, 44,7% das crianças e adolescentes brasileiros viviam em situação de pobreza. No Nordeste, o índice passou de 73,1%, em 1998, para 66,7% em 2008. Pernambuco está acima da média da região, com um índice de 67,8%

Mortalidade/Infantil: Caiu a taxa de mortalidade infantil no país, mas o Nordeste ainda ocupa o primeiro lugar em número de casos. A região registrou uma queda de 57,9 mortes por mil nascidos vivos em 1998 para 37,10 em 2008. Em Pernambuco, caiu de 61,8 para 37,10

Domicílio/Divisão: Caiu a proporção de domicílios com mais de uma família, mas no Nordeste há 60% mais chances de se encontrar a situação que no Sudeste. No NE, em 1998, 8,5% dos domicílios possuiam duas ou mais famílias. Dez anos depois, o índice caiu para 6,8%

Idosos: Cresceu o número de idosos no país, principalmente o grupo que tem mais de 80 anos, que representava 70% deles em 2008. Entre os idosos com 60 anos ou mais, muitos (32,2%) não sabiam ler e escrever. Os idosos nordestinos têm média mais baixa de estudo (2,7%). No país a média é de 4 anos de estudo. Em Pernambuco, a média é de 3,1 anos

Jovens/Educação: O país registrou queda de 8,6% para 2,9% na taxa de jovens entre 18 e 24 anos que ainda estavam no ensino fundamental, que deve ser concluído em torno dos 14 anos. No Nordeste, apenas 8,2% dos jovens nessa faixa etária estavam no ensino superior, em 2008. No Sul, o percentual é mais que o dobro: 19%

Mães/Adolescentes: Mulheres jovens estão tendo menos filhos. Em 1998, 7,6% das meninas de 15 a 17 anos já tinham filho. Dez anos depois, o percentual caiu para 6,3%. A maior redução foi no Sul. Ao mesmo tempo, caiu o número de adolescentes casadas de 39,8% para 31,5% no mesmo período. Entre as de 18 e 24 anos, aumentou de 4,8% para 11,8% a porcentagem de mães que são a pessoa de referência da família

Mulheres/Sobrecarga

De cada 100 mulheres, 52 estavam ocupadas ou procurando trabalho no país em 2008, principalmente entre as de 15 a 19 anos. Houve aumento de participação delas no mercado de trabalho, exceto entre aquelas com 10 a 15 anos. Mesmo com cônjuge, elas são cada vez mais referência dentro de casa (2,4% para 9,1%)

Mulheres/Educação: De cada 100 pessoas com 12 anos ou mais de estudo, 56,7 eram mulheres e 43,3 eram homens. Em Pernambuco, 61,8% das pessoas com 12 anos ou mais de estudo são mulheres

Negros/Educação: Os brancos têm quase dois anos a mais de escolaridade que os negros. As diferenças também se apresentam no ensino superior e nos rendimentos

Recasamentos: Em meio ao crescimento das taxas de nupcialidade, cresceu também o número de recasamentos. Eles representaram, em 2007, 16,1% do total de uniões formalizadas em cartório e, em 1998, totalizavam 10,1%

Fonte: IBGE/Síntese dos Indicadores Sociais

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