PM cobra investimento em Olinda
Publicado em 14.10.2009
Em reunião com o prefeito Renildo Calheiros, policiais militares pediram mais ações de infraestrutura para reduzir o número de homicídios na cidade
No mesmo dia em que três pessoas foram assassinadas em menos de cinco horas no Jardim Fragoso, em Olinda, o comando da Polícia Militar cobrou da Prefeitura ações de infraestrutura para ajudar a diminuir a criminalidade no município. Na reunião entre a PM e o prefeito Renildo Calheiros, ocorrida na tarde de ontem, as duas partes afirmaram estar prontas a fazer esforços para mudar as estatísticas que fizeram de Olinda a única, entre as mais populosas cidades pernambucanas, que teve aumento de homicídios este ano.
As ruas onde um homem e dois adolescentes foram mortos a tiros durante a madrugada de ontem são o exemplo do abandono. Sem asfalto ou iluminação, a ronda de policiais militares no local é um transtorno diário. “Essa reunião é para que o municipio de Olinda conheça mais de perto o novo modelo de gestão empregado na segurança pública. A partir daí, esperamos que a cidade possa aumentar a parceria com o Estado na segurança, por meio da iluminação pública, pavimentação das vias e projetos sociais”, definiu o comandante de Policiamento Metropolitano da PM, coronel Éden Vespaziano.
Segundo o oficial, o encontro já havia sido marcado antes dos assassinatos ocorridos ontem. Os homicídios em Olinda, em áreas como Rio Doce, Peixinhos, Caixa d’Água, Sapucaia, Aguazinha e Ilha Comprida, já preocupavam a PM. A cidade teve aumento de crimes letais de janeiro a agosto deste ano, em comparação com o mesmo período de 2008, passando de 174 para 178 pessoas mortas, de acordo com dados da Secretaria de Defesa Social.
O prefeito Renildo Calheiros diz estar disposto a fazer o que for necessário para diminuir os índices criminais de Olinda. “Nós vamos abrir alguns acessos em áreas que ambulância e carro da polícia têm dificuldade para entrar. Com o novo plano, vamos direcionar os esforços para as áreas críticas”, afirmou o prefeito. De acordo com ele, já há projetos sociais e obras públicas, financiadas pelo PAC, para urbanizar comunidades pobres.
“Você tem que ter política repressiva, mas ela só não é suficiente. Precisa disputar as crianças e jovens com o crime e as drogas. Só é possível disputar se você der oportunidades para essas pessoas se realizarem como cidadãos”, afirmou o prefeito, que mobilizou todo o secretariado do município para a reunião de ontem.
O perfil citado pelo prefeito é justamente o de dois dos três mortos de ontem no Jardim Fragoso: Rafael Martins da Silva, 15 anos, e Homar José da Costa Leão, 16. “Tudo indica que o crime tenha sido motivado por envolvimento com tráfico de drogas”, disse o delegado Igor Leite. Os jovens foram mortos por homens em uma moto quando saíam de uma festa. Mais tarde, mais um morto, Davi Martins da Silva, 32. Segundo a polícia, o crime aparentemente não tem ligação com o duplo homicídio.
Ronda não intimida bandidos
Publicado em 14.10.2009
Carros da polícia circulando pelo bairro de Jardim Fragoso não impediram criminosos de cometer mais um homicídio. O eletricista Davi Lima foi morto às 7h de ontem, quando a comunidade já estava cheia de policiais que faziam ronda em busca dos bandidos que mataram dois adolescentes poucas horas antes.
Criminosos em uma moto abordaram o eletricista na rua Pedro Álvares Cabral. “Foi uma execução”, afirmou o delegado Igor Leite, que investiga as três mortes.
De acordo com ele, apesar de parecidos, o duplo homicídio ocorrido às 2h e o assassinato que aconteceu mais tarde não devem ter ligação. Os dois jovens mortos primeiro eram amigos, saíam de uma festa e teriam envolvimento com traficantes do bairro. Um dos rapazes foi detido duas vezes. O homem morto depois é de Rio Doce, onde teria desavenças com criminosos, e estaria a caminho do trabalho.
Policiais que atuam em Jardim Fragoso dizem que o bairro é bastante perigoso. “O tráfico é muito forte, a região é complicada, faz uns dois meses que nos receberam a tiros aqui”, contou o soldado Paulo Ribeiro, do Grupo de Ações Táticas Itinerantes (Gati), da Polícia Militar. Segundo ele, a PM suspeita que três traficantes possam ter envolvimento com os assassinatos.
Depois dos crimes, segundo o cabo Souza Leão, mais carros da PM ocuparam o bairro. “Estamos aqui para garantir a segurança da população”, disse.
INTERNACIONAL
» HONDURAS
Volta de Zelaya ao poder em negociação
Publicado em 14.10.2009
Representantes do presidente deposto e do governo golpista acertaram sete dos oito pontos do Acordo de San José, proposto pelo mediador costa-riquenho Oscar Arias. Resposta sobre restituição é esperada hoje
TEGUCIGALPA – Negociadores do governo de fato de Honduras, liderado por Roberto Micheletti, e do presidente deposto Manuel Zelaya encerraram ontem as discussões de sete dos oito pontos em negociação incluídos no Acordo de San José. Agora, o único item sobre o qual ainda não se chegou a um consenso é o mais importante: a restituição de Zelaya ao cargo.
“Todos os pontos já foram aprovados e já estão assinados. Só falta a restituição do presidente Zelaya”, disse o ex-ministro do Interior e negociador Victor Meza. A volta de Zelaya, em discussão, não mostrou ser consenso entre os representantes que participam das conversas oficiais. Os negociadores de Micheletti apresentaram uma proposta de renúncia do presidente golpista, mas ela não significaria o retorno automático do líder deposto.
No texto, os presidentes do Congresso e da Suprema Corte, que constitucionalmente substituem, sucessivamente, o presidente da República, também renunciariam, abrindo espaço para um conselho de ministros comandar o país, formado por pessoas escolhidas pelas duas partes. A proposta, que não agrada Zelaya, faria com que Micheletti construísse uma saída honrosa para a situação.
Os negociadores de Zelaya deixaram ontem as reuniões avisando que não aceitariam uma saída que apenas tornasse legal a deposição e que insistem na restituição. “Estaríamos perdoando um golpe de Estado que não queremos que se repita”, declarou Mayra Mejía.
Por outro lado, Manuel Zelaya avalia que é positivo limpar a mesa das negociações para focar a discussão apenas na sua restituição. A expectativa é que a concentração no ponto principal aumente a pressão interna e externa sobre Micheletti.
Em comum, ambos os lados ressaltam que os temas em debate são essencialmente políticos, mas com componentes jurídicos. Caso haja dúvida sobre a legalidade de parte do acordo, o texto pode ser barrado na Suprema Corte. A ex-presidente da Suprema Corte Vilma Morales, da comissão de Micheletti, espera um acordo para hoje.
O grupo já assinou a desistência de realizar uma Constituinte e de uma anistia coletiva. Por discordar com os dois pontos, um dos negociadores de Zelaya, Juan Barahona, anunciou formalmente que se retirava das conversas. Mesmo assim, não atacou a posição de Zelaya, de flexibilizar sua posição sobre os dois temas. Gregory F. Maggio, representante do Departamento de Estado dos EUA, está em Honduras para ajudar na construção de um acordo.
VOLTA DIFÍCIL
Zelaya falou ontem, pela primeira vez, sobre a chance de não conseguir voltar ao cargo antes das eleições marcadas para 29 de novembro. “Se chegarmos às eleições sem um acordo, o que acontecerá é que a crise se aprofundará. Será um governo fraco, espúrio, a comunidade internacional vai manter seu isolamento, a menos que decidam entregar os golpistas aos tribunais de Justiça internacionais”, destacou.
» ONU
Missão de paz vai ficar mais um ano no Haiti
Publicado em 14.10.2009
PORTO PRÍNCIPE – O Conselho de Segurança aprovou por unanimidade ontem a prorrogação por um ano da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), dizendo que a situação no país continua a constituir uma ameaça para a paz e a segurança internacionais, apesar dos progressos recentes.
A resolução mantém até 15 de outubro de 2010 a atual dimensão da força de cerca de 9 mil soldados e policiais liderada pelo Brasil. Mas o Conselho concordou com a recomendação do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, em seu último relatório sobre a Minustah de reconfigurar a missão para se adaptar à situação de segurança e monitorar locais remotos. Isso significa que o número de soldados será reduzido em 120 homens, para 6.940, com o simultâneo aumento em 120 policiais, que passarão a ser 2.211.
O Conselho de Segurança reconheceu algumas melhorias em segurança no ano passado, mas afirmou que a situação de segurança continua frágil. Para o órgão, a composição da Minustah poderia ser novamente revista à medida que a Polícia Nacional do Haiti ganhar capacidade de assumir a responsabilidade pela segurança. A resolução também reitera o apelo para que a missão auxilie o governo do Haiti no fortalecimento das instituições e nos esforços para impulsionar o desenvolvimento do país mais pobre do continente.
Os 15 membros do Conselho prestaram homenagem aos membros da missão que morreram em serviço. A renovação do mandato acontece quatro dias depois que um avião Casa-212 do contingente uruguaio da Minustah caiu no interior do Haiti, perto da fronteira com a República Dominicana. No acidente morreram os seis soldados uruguaios e cinco soldados jordanianos a bordo. O avião realizava a vigilância da fronteira.
A Minustah foi criada pelo Conselho de Segurança há cinco anos, por meio da resolução 1542, para restaurar a ordem depois da violenta deposição e saída do país do presidente Jean Bertrand Aristide. Além do Brasil, participam da missão países latino-americanos como Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, El Salvador, Guatemala, Paraguai, Peru e Uruguai. Estados Unidos, Canadá, Espanha, França e Itália também atuam na Minustah.
» SAÚDE
Cai número de abortos no mundo
Publicado em 14.10.2009
Universalização do uso de anticoncepcionais causou redução de 45,5 milhões em 1995 para 41,6 milhões em 2003. Gestações indesejadas também diminuíram
LONDRES – O número de abortos e de gestações não desejadas registra uma diminuição no mundo devido a uma universalização do uso de anticoncepcionais. A conclusão é baseada num estudo internacional publicado pelo Instituto Guttmacher, uma organização de saúde sexual com sede nos Estados Unidos.
O número de abortos passou de 45,5 milhões em 1995 a 41,6 milhões em 2003, enquanto o índice de gestações indesejadas caiu de 69 para cada mil mulheres entre 15 e 44 anos em 1995 para 55 no ano passado, de acordo com o relatório da ONG.
Ao mesmo tempo, a proporção de mulheres casadas que utilizam métodos anticoncepcionais no planeta aumentou: foi de 54% em 1990 a 63% em 2003. Entre as solteiras, o levantamento também revelou um crescimento no uso desses medicamentos.
“Há cada vez mais provas de que dar às mulheres os meios para decidir por elas mesmas quando querem ficar grávidas e quantos filhos querem ter diminui de maneira importante os índices de gestações não desejadas e, portanto, reduz a necessidade de recorrer ao aborto”, comentou a diretora do instituto, Sharon Camp.
Esses programas são, no entanto, “modestos em relação ao que poderia ser feito”, acrescentou Camp, destacando importantes brechas regionais.
O aborto é ainda ilegal em 32 países, apesar de 19 nações reduzirem as restrições em suas leis sobre a interrupção da gravidez desde 1997. Outros três, contudo, as “aumentaram consideravelmente”, lembrou a diretora da ONG.
Enquanto na América Latina e no Caribe 71% das mulheres casadas utilizavam métodos contraceptivos em 2003, esse percentual era de apenas 28% na África.
“Satisfazer as necessidades em termos de contracepção, que continuam sendo muito altas em várias regiões do mundo, é essencial para promover o bem-estar das mulheres e suas famílias”, enfatizou Sharon Camp.
Ainda conforme o estudo, 40% das mulheres no mundo vivem em países com leis sobre o aborto “muito restritivas”, entre elas 97% das latino-americanas. “As restrições legais não fazem com que haja menos abortos, apenas tornam o processo mais perigoso”, declarou Camp.
A pesquisa recorda, por fim, que os abortos clandestinos causam todos os anos 70 mil mortes no planeta e que outros 5 milhões de mulheres são tratadas anualmente por complicações derivadas de um aborto inseguro.
DIÁRIO DE PERNAMBUCO - 14.10.2009 - BRASIL
Ensino médio inovador // Mais apoio para evitar evasão escolar
O Ministério da Educação (MEC) publicou ontem no Diário Oficial da União a portaria que institui o programa Ensino Médio Inovador. Através dele, o governo federal espera que os estudantes consigam diminuir os altos índices de evasão escolar registrados no antigo segundo grau. Em Pernambuco, segundo a Secretaria de Educação do Estado (SEE), o índice de alunos que abandonaram a escola durante os três anos do ensino médio ultrapassa os 30% do total de matrículas. Com o programa, o MEC pretende apoiar as secretarias de Educação dos estados e do Distrito Federal no desenvolvimento de ações para melhorar os currículos e a qualidade do ensino médio não profissionalizante. O Ensino Médio Inovador deverá ser implantado a partir de 2010. Das 720 escolas de ensino médio da rede estadual, 103 já adotam medidas semelhantes à do programa federal.
A portaria enfatiza os projetos pedagógicos que promovam a educação científica e humanística, a valorização da leitura e da cultura, o aprimoramento da relação entre a teoria e aprática, o uso de novas tecnologias e o desenvolvimento de metodologias criativas e emancipadoras. Entre as novidades está o aumento da carga horária, que passará a ser de 3 mil horas-aulas (600 a mais que o obrigatório atualmente) divididas durante os três anos do ensino médio. Segundo a coordenadora de ensino médio da SEE, Cantaluce Lima, nem todas as escolas da rede estadual serão contempladas na primeira etapa do programa. "Ainda não definimos o número de escolas onde o projeto será implantado. Mas agora que a portaria foi publicada, vamos definir critérios e preparar projetos para cada unidade beneficiada", afirmou.
Entre as mudanças também está a possibilidade de o aluno escolher 20% de sua carga horária e grade curricular. Haverá, ainda, a associação da teoria com a prática, com ênfase para as atividades práticas e experimentais, como laboratórios, oficinas e a valorização da leitura em todas as áreas do conhecimento.
VIDA URBANA
Jovens em risco
VIOLÊNCIA // Assassinato de estudante de 14 anos em Santa Maria do Cambucá, no Agreste, serve de alerta para os pais de adolescentes
Marcionila Teixeira // marcionilateixeira.pe@diariosassociados.com.br
Erivânia Maria da Silva tinha apenas 14 anos. Foi atacada e morta com golpes de facão. Na hora do crime, voltava de uma festa com uma amiga da mesma idade. Erivânia estudava, sobrevivia da agricultura. Ontem teve o corpo sepultado, às 9h, em Santa Maria do Cambucá, no Agreste do estado. O caminho dela foi cruzado por um homem, até então desconhecido, que também é suspeito de ter estuprado a adolescente. O corpo foi encontrado na manhã do último domingo, quase doze horas depois do ataque, em meio a um matagal na zona rural do município. Especialistas ouvidos pelo Diario alertam que, apesar dos baixos índices de criminalidade registrados no interior do estado, os pais precisam estar atentos para situações de violência contra a criança e o adolescente e apontam para os riscos dos jovens saírem sozinhos.
A amiga de Erivânia, cujo nome está sendo mantido em sigilo, também tem 14 anos e conseguiu escapar do assassino. Ela contou na delegacia municipal que o desconhecido não falou nada durante o ataque. Apenas surgiu do matagal e agrediu Erivânia. Os cortes foram tão violentos que por pouco a garota não perdeu a mão direita e o braço esquerdo. Também havia marcas de agressão no rosto. O delegado Gilderclei Alves explicou que a jovem foi encontrada com sinais de estupro, pois estava sem as roupas de baixo e com um dos seios à mostra. "Elas estavam em uma festa no centro da cidade junto com outras amigas. Algumas resolveram voltar antes para o sítio onde estavam dormindo e Erivânia e a colega deixaram para voltar depois", informou o delegado. A distância entre o sítio onde as garotas iriam dormir e o local da festa era de cerca de um quilômetro. A área é escura e tomada pelo mato.
A mãe da garota sobrevivente contou que a filha está sem conseguir dormir à noite. "Ela está dormindo comigo, com a luz acessa, mas acorda o tempo inteiro, assustada", comentou a mulher. Depois de escapar, a adolescente chamou a polícia. Mas o único agente de plantão na delegacia não conseguiu localizar a vítima na mesma noite. Eles apenas viram uma poça de sangue. O lugar estava muito escuro. O corpo foi levado para o Instituto de Medicina Legal (IML) de Caruaru.
"Ainda vamos ouvir as testemunhas para esclarecer o que realmente aconteceu. As duas jovens estavam juntas desde sábado. Somente a garota que sobreviveu poderá dizer se aconteceu alguma briga, algo que motivasse o crime", explicou o delegado. As duas meninas seguiam para o sítio Cai Aí. Na área há um imóvel antigo onde funcionava um colégio. O local hoje está ocupado por desabrigados.
Saiba mais
Crimes mais praticados contra crianças e adolescentes na RMR/janeiro a junho 2009
Lesão corporal e vias de fato: 515
Ameaça: 340
Calúnia, difamação, injúria: 284
Maus-tratos: 233
Atentado violento ao pudor: 227
Estupro: 102
Homicídio: 7
Cuidados para a criança e o adolescente ao sair de casa
1 Os pais podem definir a melhor rota para a criança ou adolescente fazer, evitando locais desertos, mais comuns em cidades do interior. Nesse caso, atenção redobrada por conta de matagais. O ideal é que os jovens andem sempre em grupo ou acompanhados por um adulto
2 A criança, com idade média de 12 anos, ou adolescente, pode fazer o trajeto junto com os pais antes de enfrentar o roteiro sozinho
3 Pode-se colocar em prática a "liberdade vigiada". Ou seja, os pais podem até seguir o filho à distância em parte do caminho sem que ele saiba
4 Um celular pode ser uma ferramenta útil nesses momentos de passeios sozinhos. Outra dica é indicar quais os locais que a criança ou adolescente pode se esconder em caso de perigo
5 Para os adolescentes que moram em cidades grandes, um bom começo é deixá-los mais livres em shoppings, clubes ou condomínios antes de liberá-los para as ruas sozinhos
6 Já em municípios do interior, essa técnica pode ser testada em praças, clubes, quadras esportivas, igrejas e idas às casas de amigos ou parentes
Fonte: Gerência de Polícia da Criança e do Adolescente (GPCA
Em 2006, outra tragédia
Essa não é a primeira vez que um crime praticado contra uma criança ou adolescente no interior pernambucano chama a atenção. Em 10 de agosto de 2006, Laís Melo Bezerra, na época com 9 anos,
foi raptada quando deixava o Centro de Formação de Menores - instituição em que estudava, em Limoeiro, no Agreste. Em novembro de 2006, o Grupo de Operações Especiais (GOE) apresentou a conclusão do inquérito do assassinato da menina, além de um vídeo gravado durante acareação entre o assassino confesso Ricardo Alexandre Nery Galvão, 33, e o ex-policial militar, José Arnaldo dos Santos. No vídeo, Ricardo conta que a garota foi morta porque os reconheceu. Ambos estavam no regime semi-aberto quando a garota foi assassinada. Laís foi estuprada, morta e teve o corpo esquartejado.
Ricardo foi preso pelo GOE em 19 de outubro e confessou ter abusado sexualmente da menina, estrangulado e enterrado a vítima no mesmo dia do sequestro. Por causa da repercussão do caso, contou que voltou ao local, desenterrou, esquartejou e ateou fogono corpo e espalhou os pedaços pelo terreno. Ele ainda jogou cal na área para evitar a presença de urubus.
José Arnaldo foi detido em 25 de outubro, depois que Ricardo admitiu que havia recebido ajuda para cometer o crime. A princípio ele negou a participação no caso. Mas, quando os acusados ficaram frente a frente, o ex-PM afirmou que os dois planejavam sequestrar alguma estudante de escola particular. As investigações duraram dois meses e a família de Laís permaneceu todo esse tempo com esperanças de reencontrar a criança. Logo após o crime, moradores do município evitavam deixar os filhos saírem sozinhos.
Perigo em qualquer cidade
Não só os adolescentes das cidades grandes e tidas como violentas, como o Recife, correm risco de serem vítimas de crimes como estupro ou assassinato. Mesmo com realidades mais tranquilas, com índice de criminalidade mais baixo, o alerta para os pais em relação a cuidados com os filhos deve ser diário. Não importa se a família mora em cidades pequenas. Estabelecer horários, acompanhá-los ou buscá-los em festas à noite e conhecer seus amigos são funções dos pais e devem ser cumpridas em qualquer lugar.
O delegado Zaneli Alencar, da Gerência de Polícia da Criança e do Adolescente (GPCA), lembra a lei. "O artigo 16 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) diz que eles têm direito de ir e vir nos logradouros públicos, ressalvadas as restrições legais", citou. No entanto, destacou Zaneli, há necessidade de cuidados redobrados com os crimes sexuais.
"Os jovens são vulneráveis, pois são fisicamente inferiores. Muitas vezes o criminoso é estimulado pelo uso de bebida alcoólica. Além disso, pode ser praticadoem qualquer lugar, pois o impulso sexual faz parte da história do ser humano", explicou. Para o delegado, é diferente do crime contra o patrimônio, por exemplo, já que o criminoso procura lugares mais abastados para roubar.
Psicóloga familiar, Tânia Guerra ensina que a maturidade da criança e do adolescente vai definir o melhor momento para eles saírem sozinhos. "Nem sempre a idade cronológica deve ser o divisor de águas. Muitas vezes vemos adolescentes com 14 anos que são mais sagazes que um adulto", alertou.
A família, na opinião da psicóloga, precisa estar atenta ao desenvolvimento do filho. Observar se o jovem tem noção de perigo, ver como se comporta em relação às responsabilidades. "De toda forma, não recomendo sair sozinho com menos de 12 anos. Acho que os pais podem ir soltando os filhos aos poucos ou praticar a liberdade vigiada, com a criança e o adolescente sempre ao alcance da visão", destacou.
O que não pode, avisa Tânia Guerra, é tornar a relação sufocante e proibir o jovem de sair apenas por conta da idade. É preciso explicar o porque da proibição. "Prender demais também não é bom porque a pessoa vira um adulto que deixou de viver por excesso de cuidados dos pais. Quando solto no mundo, corre o risco de ficar ingênuo", ensinou a psicóloga.
Em julho deste ano, a Vara Regional da Infância e Juventude publicou portarias regulamentando o artigo 149 do ECA e apontando para cuidados no acesso de crianças e adolescentes a lugares como boates, estádios de futebol, espetáculos e casas de diversão eletrônica.
Primeira lição: sobreviver
Adultos que conseguiram escapar da criminalidade, das drogas e da violência são exemplo para os jovens das comunidades pobres da capital
Silvia Bessa // silviabessa.pe@diariosassociados.com.br
Existem centenas de heróis invisíveis nos bairros mais violentos e pobres do Recife. Em meio ao barulho de sirenes de carros de polícia, de tiros e mortos, diante do medo do presente e do futuro, Diogo e Everton dignificam e representam essa turma do bem. De duas gerações distantes, Diogo Daniel Sena Costa, com 7 anos, e Everton Marinho Pinto, com 23, guardam força de gigantes num mundo real desconhecido. O pequeno Diogo faz parte da turma da professora Ana Paula Barbosa na Escola Municipal Nossa Senhora do Pilar - avaliada por ela como "diferenciada pelo desempenho coletivo apresentado" - e é daqueles garotos que pedem sempre uma cartilha a mais para levar para casa, que trazem dúvidas sobre palavras novas descobertas no dicionário e cujo interesse pelas letras influencia os coleguinhas. Diogo, da comunidade do Pilar (Bairro do Recife), foi forçado a amadurecer e compreendeu que terá de estudar para não copiar o pai - preso há cerca de um mês por acusaçãode envolvimento com o tráfico.
Desde cedo, Everton Marinho vive numa área de precariedade semelhante à de Diogo: recém-graduado em Licenciatura em Música, ensina a estrada da retidão para a garotada da Ilha Santa Terezinha, em Santo Amaro. A Ilha, antes conhecida como "Ilha do Inferno", situa-se em um dos dez bairros mais violentos do Recife desta década, aponta o Observatório da Violência da Prefeitura. A comunidade do Pilar fica bem próxima: com poucas ruas compostas por barracos improvisados, ganhou fama de violenta. Localiza-se no Recife Antigo, bairro com a pior renda média dos chefes de família entre os 94 da cidade (R$ 156,88), de acordo com dados do último Atlas do Desenvolvimento Humano. Diogo e Everton foram postos lado a lado na matéria de encerramento da série de reportagens Meninos-Heróis, publicada desde domingo pelo Diario, por ratificarem a ideia de que é possível romper fronteiras, usando a educação como instrumento de transformação.
O menino e o jovem músico - este, referência para a Ilha Santa Terezinha, onde reside e é respeitado até por ex-colegas que se envolveram com o crime - se movimentam como podem para ignorar um virtual destino trôpego. Agarram-se com vigor nas oportunidades ou apenas na coragem. Cada um na sua idade, em seu ritmo, é um agente de mudança. "Estudei em instituições públicas, passei no vestibular numa universidade pública (UFPE), moro na mesma comunidade que nasci e tenho prazer de dizer isso. Não foi só uma opção minha. Continuar aqui e contribuir na formação dos meninos é um dever", diz Everton. Segundo ele, a sua base foi a orientação que recebeu de professores, dos pais (é filho de Jonhson Pinto, espécie de guru da Ilha), e de organizações sociais - como o Movimento Cristão dos Folcolares. Maestro, ensina noções de música para crianças desde os quatro anos de idade até idosos.
"O esforço de Everton e de outros bons alunos que passaram por aqui é admirado e incorporado sem que os meninos percebam", acredita Eliane Aragão, diretora da Escola Municipal Sede da Sabedoria. Atuando na mesma instituição há 10 anos, Eliane faz contas assustadoras da violência com jovens na área: "Só no Pró-jovem, foram três mortos este ano". Outro dia, conta, numa pesquisa informal entre professores, uma colega relacionou "20 meninos mortos pelo tráfico".
São as lições de Everton que a diretora procura no seu convívio com crianças de até 10 anos assediadas pelo tráfico - muitas apresentadas à cocaína na infância. Para Eliane Aragão, nenhum aluno precisa ser espetacular: "Se for esforçado e for um cidadão do bem já ficaremos satisfeitos". Ana Goreti, mãe de Diogo Costa, do Pilar, reza todos os dias para que o filho assim seja. Doméstica, com baixa renda e criando o filho com a ajuda do novo companheiro, sabe que a batalha não será fácil. "Mas ele pode. Sei que pode. Basta querer", confia. Aos 7 anos, Diogo conhece a história do pai e ouve da mãe que seu futuro está nas suas próprias mãos.
O que os números não veem
A série de reportagens Meninos-Heróis não é mais um conjunto de matérias sobre a violência do Recife - capital líder em número de homicídios do Brasil, diz o Mapa da Violência dos municípios de 2008, da Rede de Informação Tecnológica Latino Americana com os Ministérios da Saúde e da Justiça. Meninos-Heróis diferencia-se por tratar do lado avesso da criminalidade. É um trabalho sobre o universo educacional nas regiões mais perigosas da cidade. Exigiu 20 dias de entrevistas com professores, pais, crianças e jovens, afora uma dose de persistência porque nem sempre o acesso a essas comunidades é fácil. Os próprios moradores alertam sobre o "perigo" a que se submetem os "estrangeiros".
Durante a produção, vimos um sem fim de estudantes à espera de um incentivo para chegar à lista dos melhores ou apenas fugir das drogas. Mas como envolver os garotos num projeto de educação e de vida melhor? Nem os meninos, nem os pais, nem a escola, nem os governos podem resolver sozinhos a equação. "É obrigação de todos. Nenhumtem parcela maior que outro", diz a pesquisadora Marina Ribeiro, do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), em entrevista ao Diario, do Rio de Janeiro. Foi com a preocupação de situar o papel de cada um que a equipe conduziu as matérias.
Ao reproduzir exemplos de sucesso, as reportagens revelaram uma realidade ofuscada por estigmas, tentou motivar casos de estudantes e mais do que isso: quis contribuir para a elevação da autoconfiança dos estudantes e mostrar que a opção feita pelos meninos-modelos pode (e deve) servir de inspiração para centenas de estudantes da capital.
Agradecimentos
Esta reportagem teve a colaboração de diversas pessoas, sem as quais não teríamos conseguido executar o trabalho como desejávamos. Gente como Cacilda Medeiros e toda a equipe do Observatório da Violência e da Secretaria de Direitos Humanos e Segurança Cidadã do Recife, que nos forneceu dados estatísticos da violência nos bairros recifenses; como Carmen Cavalcanti e Luciliane Leitão, do Programa Orçamento Participativo, que nos auxiliaram no acesso às comunidades; como Eliane Aragão, Ezequiel da Silva, Luís Soares, Isabel do Espírito Santo e Vanderléia de Paula, todos diretores de escolas que visitamos; como Ana Paula de Barros, Ivanildo Luís, Marcondes Bispo, Roberto Moura, Sária da Silva, professores que nos ajudaram não só a estabelecer contato com os alunos, mas igualmente a compreender a realidade com que lidam diariamente; como a jornalista Samara Arcoverde, da Secretaria Estadual de Educação, que fez o que devem fazer os assessores de imprensa: facilitar o trabalho de quem busca informação; como o motorista do Diario Maviael da Silva, pelo profissionalismo, e, por fim, gente como os pais dos alunos, que abriram as portas de suas casas para nos revelar histórias que só eles sabem como são.